NOTA DE ESCLARECIMENTO
A propósito das declarações proferidas pela nossa filha e da repercussão pública das mesmas, em especial quanto à intervenção pública do Senhor Director Regional do Desporto. Na sequência de diversas declarações proferidas pela nossa filha, Madalena Costa, Bi-campeã do Mundo de patinagem artística, tricampeã do Europa, tetracampeã da Europa e octacampeã referência da modalidade em Portugal, e considerando a repercussão pública que as mesmas suscitaram, nomeadamente através da cobertura por parte de diversos órgãos de comunicação social — entre os quais a RDP e a RTP, entendemos, enquanto pais e responsáveis diretos pela sua formação pessoal, académica e desportiva, prestar o seguinte esclarecimento, que reputamos de essencial para evitar interpretações erróneas ou descontextualizadas.
Em momento algum a Madalena procurou criticar, de forma injusta ou infundada, qualquer instituição, entidade ou pessoa concreta. Pelo contrário, manifestou sempre gratidão pelos apoios que lhe foram prestados no passado, tendo sido clara ao afirmar, por exemplo: “(…) a partir de amanhã, começo em treinos bi-diários, no Curral das Freiras, não é propriamente na minha área de Residencia, mas foi o pavilhão que arranjámos e depois da 8 ás 10 e meia da noite no pavilhão de Santa Cruz. Em Santa Cruz, nós temos um treino do clube, com praticamente 60 atletas dentro de pista, o que não é muito fácil, ás vezes digo que faço quase um treino de obstáculos, porque além de estar a treinar com muita gente dentro de pista, com vários níveis, ainda temos por exemplo balizas dentro de campo, tabelas de basquete, colchões ali, colchões acolá, e eu atinjo velocidades grandes, não é, ás vezes tou a fazer por exemplo um pião ou um salto e ás vezes saio para me desviar de um colchão, para não bater numa baliza, pronto é sempre um risco muito grande e obviamente que apesar de já ter várias horas de treino, pelo qual sou muito grata, gostaria de ter por exemplo um pavilhão próprio, com mais condições de treino, porque por exemplo em Itália eles treinam o dia inteiro num pavilhão próprio, algumas atletas, por exemplo em Portugal continental, têm pavilhão próprio, enquanto nós aqui, por exemplo, temos condições limitadas, temos que esperar que acabem as aulas, ou tem as outras modalidades antes. Obviamente que deve haver espaço para todas, mas há alguns atletas que têm resultados, que são diferentes e deviam ser tratados como tal.”
Neste sentido, importa sublinhar, de forma absolutamente inequívoca, que a Madalena nunca falou em valores financeiros nem em montantes não recebidos, nem solicitou apoios monetários adicionais. As suas palavras centraram-se exclusivamente na falta de espaços de treino adequados, que constituem uma necessidade básica e estrutural para qualquer atleta de alto rendimento. A Madalena referiu que, vivendo em Santa Cruz, se desloca, frequentemente, para o Curral das Freiras para poder treinar, dado que os seus espaços regulares são ocupados por atletas mais velhos e experientes, em horários de maior conveniência, restando-lhe por vezes apenas horários residuais, em final de tarde ou noite, quando sobra tempo. Estes factos são do conhecimento de todos os agentes da modalidade e estão longe de constituir um privilégio para quem representa o país em palcos internacionais, da forma brilhante e com os resultados que a Madalena tem alcançado.
É também importante por isso frisar que as condições de treino que lhe são proporcionadas não são próprias nem técnica nem logisticamente para a patinagem artística de competição e isso é um facto indubitável. A Madalena referiu-se inequívocamente aos pavilhões desportivos. Estas dificuldades tornam-se particularmente evidentes quando comparadas, como ela fez de forma expressa, com as condições de treino das suas adversárias italianas, espanholas e mesmo portuguesas de outras realidades, que beneficiam de centros de treino exclusivos, apoio técnico permanente e acesso prioritário a estruturas desportivas de referência nos seus clubes, a maioria dos próprios clubes.
Acresce que, é necessário ficar esclarecido de forma cristalina, apesar de ser público e notório, que os apoios institucionais estão atrasados, por diversos factores que, não vindo agora ao caso, nunca foram objeto de crítica por parte da Madalena. A nossa filha não se pronunciou sobre burocracias, nem sobre os motivos do atraso, mantendo-se sempre fiel ao seu registo cuidado, equilibrado e de respeito, aliás referido de forma expressa pelo próprio jornalista Paulo Almada quando referiu que “(…) Eu percebo o seu cuidado com o que está a dizer para não ferir susceptibilidades, mas digo eu: pelos resultados que a Madalena traz já não estava mais que na hora de ter um espaço próprio? ”A clareza das palavras, fala por si!
Por outro lado, quanto a questões de âmbito financeiro, e quer se queira quer não, a verdade é que, se nós, enquanto pais, não tivéssemos adiantado do nosso bolso os montantes necessários para cobrir os custos financeiros da sua participação em todas as Taças do Mundo, simplesmente não teria existido participação nessa prestigiada competição internacional onde a Madalena se destacou e levou o nome de Portugal ao primeiro lugar do pódio por quatro vezes consecutivas.
Importa igualmente esclarecer que, não obstante constar no JORAM a atribuição de subsídios a atletas (e também à Madalena) a verdade é que, os apoios estão atrasados, mas estamos conscientes de que tal resulta de várias e incontestáveis circunstâncias alheias à vontade de todos, com o consequente atraso na assinatura dos protocolos institucionais.
Os resultados que a Madalena tem alcançado, sejam nacionais, europeus e mundiais, são prova da sua dedicação, resiliência e espírito de superação. Foram conseguidos com apoio incondicional da sua família, com grande esforço pessoal e sacrifício financeiro, sem que isso tenha sido jamais apresentado como argumento de vitimização ou motivo de críticas públicas sobre tal situação.
Queremos igualmente afirmar, com total clareza, que este comunicado não tem qualquer motivação política, nem visa atacar entidades ou pessoas concretas. Trata-se apenas de esclarecer eventuais dúvidas ou interpretações equívocas das palavras da Madalena e reafirmar os valores que nos norteiam: respeito, gratidão, responsabilidade e justiça. Apenas queremos que a Madalena tenha acesso às melhores condições que lhe permitam continuar a representar Portugal e a Madeira com a dignidade, dedicação e sobretudo com os resultados que sempre demonstrou. O que mais terá a Madalena de fazer para que se compreenda, de forma clara e definitiva, que as suas reivindicações, aliás legitimas, dizem respeito à exigência de melhores condições de treino e apoio?
Reiteramos o nosso total respeito pelas instituições que trabalham em prol do desporto em Portugal e, em particular, na Região Autónoma da Madeira. Estamos disponíveis para colaborar com todas as entidades e instituições que queiram apoiar, de forma genuína, o desenvolvimento e o percurso desportivo da nossa filha.
É nesse espírito, construtivo, mas firme, que decidimos emitir este esclarecimento, certos de que a verdade é o único fundamento sólido sobre o qual se constrói qualquer reputação.
Com os melhores cumprimentos,
Sheila Rodrigues
Duarte Costa