Os casos positivos de Covid-19 que têm surgido no futebol português estão a causar “apreensão” e maior “desconfiança” nos jogadores, de acordo com José Gomes, e a reação tem de ser “controlada” até que o parecer seja colocado em prática pela Liga e Federação, mas o técnico considera que o documento coloca “muitas dúvidas” e “exigências impossíveis de conseguir” para os agentes desportivos.
“Numa leitura de interpretação rápida, tem lá coisas que, em bom português, não tem pés nem cabeça. Vamos todos esperar, porque, se for exigida a assinatura de todos os agentes desportivos daquilo que está escrito, pode até hipotecar a retoma do futebol”, comentou, num debate promovido na página de Facebook do Marítimo.
No primeiro dia de trabalho presencial na equipa insular, depois de duas semanas de quarentena, José Gomes notou preocupação da parte do seus pupilos e espera que os casos sejam “únicos” e “rapidamente ultrapassados” para que todos possam estar de saúde prontos para as 10 jornadas restantes do campeonato, “se realmente houver a retoma”.
Após inicialmente estar convencido de que o Marítimo pudesse jogar no seu estádio, na Madeira, o treinador ‘verde rubro’ perdeu alguma confiança, pois o parecer informa que as “competições devem ser realizadas no menor número possível de estádios”, mas reiterou a importância de os jogadores terem a “vida normal”, ao dividirem o tempo entre treinos e jogos e estarem também com as suas famílias.
“Seria melhor para todas as equipas jogarem no seu próprio estádio. Não haveria no ar a especulação de se poder falar em benefícios de ninguém. Todos os estádios da I Liga têm condições para promover estas questões de segurança e higienização”, acrescentou.
Os pontos de interrogação prolongam-se à situação dos outros escalões do futebol português e José Gomes fala em inconsistência de critérios.
“Ficamos com dúvidas ao que seria feito à I liga, atendendo ao que aconteceu na II Liga, CNS [Campeonato de Portugal] e campeonatos distritais. Para o futebol português, tivemos medidas e pesos diferentes, formas de avaliar e ajuizar diferentes e que não se conseguem compreender. Há decisões que são tomadas na secretaria e outras em campo. Há equipas que sobem e outras impossibilitadas de subir e não se sabe porquê”, abordou.
Por fim, o treinador do Marítimo aproveitou para dizer que o povo português é “fantástico”, tem os melhores do mundo em “todas as áreas” e faz “autênticos milagres”, mesmo em dificuldade, apontando o dedo a quem governa Portugal, porque sente que “um rei fraco torna fraca a sua forte gente”.
“Nós somos pessoas, temos família. Não estamos de ouvidos tapados e temos obrigação de estarmos atentos ao que nos rodeia. Acho uma vergonha que as pessoas que mandam nos destinos do nosso país, que permitiram que houvesse cortes salariais, despedimentos em massa e ‘lay-off’, não tivessem abdicado de parte do salário até à retoma do país”, vincou.