À Lusa, o médico especialista em ortopedia e medicina desportiva disse que o regresso ao trabalho do clube da II Liga portuguesa de futebol não representa qualquer perigo para a saúde pública, mas estranha a decisão numa altura em que vigora o estado de emergência.
“Em termos de saúde pública, pura e dura, o que o Nacional está a fazer não põe a saúde em risco, porque tudo está a ser respeitado. O decreto-lei 2-A/2020 permite que os atletas de alta competição, a que se equiparam os profissionais de futebol, possam deslocar-se ao complexo desportivo para fazer treinos individualizados. Estou perfeitamente descansado, porque está tudo salvaguardado. Coisa diferente é que, face ao estado de emergência em que se vive, acho, mais do que controverso e discutível, pouco razoável”, defendeu.
O líder da ANMF, instituição que preside desde 2009, estimou que, quando se der o regresso de jogos nas competições profissionais, é quase certo que as bancadas estarão vazias de público.
“É muito provável que, na retoma, os primeiros jogos sejam à porta fechada. Depois disso, vai depender muito dos números e da forma como a pandemia evoluir. Em mês e meio pode acontecer muita coisa”, ressalvou.
João Pedro Mendonça disse à Lusa que a Associação Nacional de Médicos de Futebol tem “conferências quase dia sim, dia não” com a Liga Portuguesa de Futebol Profissional e que há uma previsão para o regresso aos relvados.
“A Liga tem tratado vários cenários e o último que está em cima da mesa, que poderá ou não ser posto em prática, é o de recomeçar durante o mês de maio a atividade desportiva em termos de treinos para a primeira das 10 jornadas que faltam ser concretizada no último domingo de maio”, referiu.
O dirigente, que frisou que a concretização destes prazos dependerá sempre do que acontecer nos próximos dias e semanas, considera o cenário possível.
“Este é o último cenário traçado recentemente pela Liga. Se vai ser possível já no final de maio ou em junho ou só depois, por haver um aumento grande no número de infetados, vamos ter de esperar. Com os dados que temos, vejo o cenário que a Liga está a traçar como possível, mas não posso afirmar que vai ser rigorosamente assim. O cenário traçado é aquilo que nós queremos, sem pôr nunca em risco a saúde pública”, vincou.
O médico que preside à ANMF considera que com a pandemia da Covid-19 nada mais será como antes, mas acredita que, a partir de 02 de maio, data em que finda o renovado estado de emergência, “vamos ter de começar a conviver com o vírus com novos procedimentos, hábitos e distanciamentos sociais”.
“Mas não podemos parar, sob pena de um dia morrermos da cura”, completou.
João Pedro Mendonça sublinhou ainda a necessidade de o futebol acatar as indicações dadas pelas autoridades competentes.
“O futebol deve respeitar rigorosamente as diretrizes que vêm da Direção-Geral da Saúde, dos decretos emanados pelo Presidente da República e pelo Governo, mas também não ir além disso para não sermos mais papistas que o Papa”, declarou à Lusa.
Portugal regista 629 mortos associados à Covid-19 em 18.841 casos confirmados de infeção, segundo o boletim diário da Direção-Geral da Saúde (DGS) sobre a pandemia, divulgado na quinta-feira.
C/Lusa