“Este processo não vai andar para trás. Não há caminho alternativo. Avança com transparência total e é irreversível. Não adianta pressionar seja quem for. É um tema que já nem se devia discutir”, alertou Tiago Madureira, diretor executivo da LPFP.
O dirigente falava durante o webinar “Centralização dos Direitos Audiovisuais”, um aperitivo para o Thinking Football promovido pela LPFP, e no qual reconheceu que “falta informação” sobre uma “inevitabilidade” que vai acontecer, “no pior dos cenários, em 2028/29”.
“Há até uma ambição demonstrada – e unânime – de que sejam estudadas possibilidades de tentar antecipar este processo o mais possível, mas este é um tema complexo, até por ainda haver contratos em vigor”, admitiu.
Em 2025/26, a LPFP, em articulação com a Federação Portuguesa de Futebol (FPF), tem de apresentar ao governo uma proposta de projeto de lei para definir, entre outros, as condições da centralização, o seu objetivo, a forma de serem vendidos os direitos, e o modelo de repartição financeira, “o que tem criado maior ruído, discórdia”: no fim, o governo e a autoridade da concorrência têm de aprovar o documento.
Tiago Madureira revelou igualmente a convicção de que nenhum clube vai receber menos com a centralização dos direitos, até porque confia no crescimento do mercado.
Pedro Briga, professor associado da Nova SBE, não partilha do “mesmo entusiasmo e otimismo” na irreversibilidade do processo, embora assuma que a centralização “tem maior potencial de criação de receita do que a feita individualmente, pois um monopólio tem maior poder de negociação”.
Mesmo assim, questiona qual a “receita adicional” que vai ser criada, pois não imagina que será “muito superior” à atual, entendendo que um “estudo otimista” que a LPFP fez com base nos direitos da época 2014/15 apresenta receitas “grosseiramente irrealistas”.
Recorda que o adepto português já é quem, na Europa, paga mais pelo futebol, quando comparado ao seu salário médio.
“Se o objetivo é aumentar apenas a qualidade competitiva interna e os grandes perderem mais vezes com os pequenos, estamos bem. Mas há ainda as competições internacionais em que temos sucesso porque temos os ovos todos em três cestos”, ilustrou, referindo-se aos três ‘grandes’ (Benfica, FC Porto e Sporting), entendendo que são mais competitivos do que rivais de mercados similares aos portugueses, como o belga e o dos Países Baixos.
O professor de economia acha que o governo até poderá reverter esta centralização caso os clubes deixem de a desejar – “os mesmos que podem destituir as direções da LPFP” – ou “mudar o contexto”, exemplificando com os impactos da pandemia ou da guerra na Ucrânia, eventos “capazes de baralhar tudo”.
Disse que em Portugal, Benfica, FC Porto e Sporting somam 94,5% dos adeptos, mas recebem apenas cerca de três quartos das receitas, num mercado em que boa parte dos clubes “não têm base sociológica” em termos de adeptos.
Luís Vicente, líder da APEX Capital, recorda que todos os grandes eventos internacionais optaram por modelos de centralização dos direitos audiovisuais – Jogos Olímpicos, campeonato do Mundo de futebol, Fórmula 1, entre outros -, contudo garante que esse passo não basta, por si só, para melhorar o futebol português.
“O que vai acontecer depois? O que vamos mudar e implementar para construir um produto muito mais forte e lutar contra a situação gravíssima e muito complexa no futebol, nomeadamente ao nível da situação financeira”, questiona.
Disse que, em termos europeus, o futebol perdeu 12 biliões de euros nos últimos três anos, período no qual a divida bancária cresceu 51%, sendo que “os custos operacionais associados e os salários continuam a crescer”, não se perspetivando alterações nas tendências.
“A centralização será uma oportunidade única para Portugal, mas temos de perceber como vamos ter um negócio sustentável para todos, não apenas para alguns”, reforçou.
O Thinking Football, que a LPFP vai promover pela segunda vez entre 07 e 09 de setembro, no Porto, vai contar com mais quatro webinares, num “aquecimento” de discussão para o evento na invicta.
Apostas desportivas, retenção de talentos no futebol, diminuição de custos e a importância das associações são alguns dos temas futuramente em debate.
Lusa