“Devemos dizer que das palavras do primeiro-ministro e das respostas que deu, subentende-se que houve uma tentativa de proteger o papel de Isabel dos Santos, filha do Presidente de Angola, e o seu papel no Eurobic”, considerou a bloquista Mariana Mortágua, em conferência de imprensa no parlamento.
Na opinião do BE, “esta proteção, que acabou por não ter qualquer consequência, a verificar-se, é obvio que é uma situação grave e configura uma subalternização do Estado português aos interesses da elite angolana”.
“Aquilo que eu gostaria de destacar é que esta posição do regime português de subalternização aos interesses da elite angolana não aconteceu apenas no mandato e no PS de António Costa. Ela foi a regra do Banco de Portugal, a regra do PSD e a regra do PS ao longo dos últimos 20 anos”, salientou.
A deputada bloquista deu vários exemplos, dizendo que “foi o Banco de Portugal que autorizou a entrada de Isabel dos Santos no Eurobic em 2014, quando já se sabia que a fortuna da filha do presidente [de Angola] era uma fortuna roubada ao povo angolano, e muitos outros países europeus travaram os capitais angolanos”.
“Foi o Banco de Portugal que permitiu que o BNI Angola se instalasse em Portugal apesar de ter acionistas escondidos, como o caso do construtor José Guilherme e de ter outros acionistas, como o filho do presidente do BNA, o Banco Nacional de Angola”, acrescentou.
Mariana Mortágua salientou também que “foi o ministro do PSD Rui Machete que pediu desculpas a Manuel Vicente, vice-presidente de Angola, por estar a ser investigado em Portugal por lavagem de dinheiro”.
“Foi Carlos César, o presidente do PS, que foi ao congresso do MPLA em 2016 agradecer o contributo da elite angolana para a economia portuguesa”, acrescentou.
Para a deputada bloquista, o que se deve concluir “com alguma serenidade, é que o que se passa entre o antigo governador do Banco de Portugal [Carlos Costa], o Grupo Parlamentar do PS e do PSD não é uma preocupação com a lavagem de dinheiro angolano em Portugal, é uma lavagem de roupa suja”.
“É uma vingança entre instituições que tem a ver com o passado e que nada tem a ver com o papel da elite angolana em Portugal”, acusou.
Para a deputada, o país assiste hoje “infelizmente ao facto de Portugal continuar a ser usado para lavar dinheiro, desta vez pela oligarquia russa, sem que isso desperte o interesse nem do Banco de Portugal, nem do PSD, nem do PS”.
O PS vai requerer ao Banco de Portugal “toda a documentação e informação” que justificaram a intervenção do ex-governador Carlos Costa no processo Eurobic/BPI, anunciou hoje o líder parlamentar socialista, Eurico Brilhante Dias.
Também hoje, o líder parlamentar do PSD considerou que o primeiro-ministro confirmou, nas respostas ao partido, que “interferiu junto do Banco de Portugal” quer no caso que envolve Isabel dos Santos quer no processo de resolução do Banif.
Joaquim Miranda Sarmento admitiu que o partido poderá dar “uma segunda oportunidade” e repetir questões ao primeiro-ministro ou colocar novas sobre uma eventual interferência no Banco de Portugal, antes de ponderar um inquérito parlamentar.
António Costa enviou na terça-feira ao parlamento a resposta às perguntas que lhe foram colocadas pelo PSD em 23 de novembro passado, depois de o ex-governador do Banco de Portugal Carlos Costa o ter acusado de pressão e de “intromissões políticas” no processo de afastamento da empresária Isabel dos Santos do BIC.
Nas respostas enviadas ao parlamento, o primeiro-ministro afirma que nunca fez junto do Banco de Portugal “ou de quem quer que seja” diligências em favor da idoneidade de Isabel dos Santos e apenas atuou para procurar resolver o bloqueio acionista no BPI.
Já às questões sobre o Banif, António Costa refere que o Banco de Portugal em dezembro de 2015, liderado por Carlos Costa, concluiu que a venda do Banif por resolução ao Santander era a única alternativa à liquidação, e conduziu o processo.
Lusa