“Todo o mundo falhou em relação a Myanmar” (antiga Birmânia), disse António Guterres aos jornalistas. “A comunidade internacional como um todo falhou e a ONU faz parte da comunidade internacional”, acrescentou.
A situação em Myanmar, que enfrenta uma crise política desde o golpe de Estado de fevereiro de 2021, é "um pesadelo sem fim", insistiu o português, durante a cimeira da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), a decorrer na capital do Camboja, Phnom Penh.
"Peço às autoridades de Myanmar que ouçam o povo, libertem os presos políticos e voltem imediatamente ao caminho da transição democrática. Este é o único caminho para a estabilidade e a paz", sublinhou Guterres.
No final do primeiro dia da cimeira, cujos trabalhos decorreram à porta fechada, o presidente indonésio, Joko Widodo, disse que propôs a exclusão da participação política de Myanmar de todas as reuniões da ASEAN.
“A representação não política de Myanmar deveria aplicar-se para além das cimeiras e das reuniões dos ministros dos Negócios Estrangeiros”, disse Widodo, citado pela agência espanhola EFE.
Myanmar está impedido de participar a nível político nas cimeiras e reuniões dos chefes da diplomacia da ASEAN desde o ano passado, devido às dificuldades colocadas pelos militares birmaneses para negociar uma saída para a crise.
António Guterres disse aos jornalistas que sentiu que “o governo indonésio será capaz de impulsionar a agenda de maneira positiva”.
No entanto, segundo o comunicado divulgado no final do primeiro dia, os líderes asiáticos rejeitaram a ideia de uma suspensão total de Myanmar do grupo, reafirmando na sua decisão que o país “continua a ser parte integrante da ASEAN”.
Concordaram também em continuar a trabalhar para a implementação do plano de paz de cinco pontos, que inclui o fim da violência, o diálogo e a mediação de um enviado especial do bloco regional.
Os líderes da ASEAN defenderam que é preciso "envolver todos os interessados” no processo de paz, incluindo a oposição birmanesa.
Um anúncio que irritou o regime militar de Myanmar, que "condenou" a decisão da ASEAN de iniciar discussões com organizações que descreveu como “ilegais e terroristas".
A ASEAN expressou ainda a “preocupação com a crescente violência” no conflito birmanês, tendo apelado ao apoio da ONU e de outros países.
Guterres disse esperar que a enviada especial da ONU para Myanmar, Noeleen Heyzer, coopere estreitamente com o homólogo do ASEAN para pôr fim às “dramáticas violações dos direitos humanos” no país.
O enviado especial da ASEAN pôde viajar para Myanmar várias vezes desde o golpe militar, mas foi impedido de se encontrar com a líder deposta, Aung San Suu Kyi, que está presa.
A ASEAN, fundada em 1967, integra atualmente Brunei, Camboja, Filipinas, Indonésia, Laos, Malásia, Myanmar, Singapura, Tailândia e Vietname.
A cimeira de Phnom Penh decorre até domingo.