Em declarações à imprensa portuguesa, no final de uma reunião de emergência de ministros dos Negócios Estrangeiros da UE, na quarta-feira, em Nova Iorque, João Gomes Cravinho declarou que "foi unânime" o sentimento partilhado por todos os homólogos no encontro.
"Não há decisões formais, porque isto não foi uma reunião formal. Contudo, é uma reunião que teve uma presença da grande maioria dos MNE e, portanto, permitiu tirar o pulso político daquilo que é o sentimento coletivo em relação a três novas dimensões que resultam do discurso do Presidente Putin: em primeiro lugar, a sua decisão quanto à mobilização parcial; segundo, a ideia de avançar com referendos ilegais que permitem a anexação do território ucraniano pela Rússia; e terceiro, muito lamentavelmente, as suas ameaças explícitas em relação à utilização de armas de destruição maciça", afirmou.
"O sentimento partilhado por todos, unânime, nesta reunião, foi que a União Europeia não se deixará intimidar. A União Europeia não pode aceitar este tipo de atitude, continuará firme no seu apoio à Ucrânia e haverá agora, naturalmente, um reforço de sanções que serão discutidas logo que houver oportunidade para reuniões formais", declarou o chefe da diplomacia portuguesa.
Na quarta-feira, o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, anunciou a mobilização de 300 mil reservistas para a guerra na Ucrânia, a realização de referendos para a anexação de territórios ucranianos e prometeu recorrer a "todos os meios ao seu dispor" para proteger o país, numa alusão ao armamento nuclear, acrescentando: "isto não é bluff".
No final de uma reunião de emergência, na quarta-feira, em Nova Iorque, o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, anunciou que vai manter a ajuda militar à Ucrânia e aumentar as sanções à Rússia.
"Foi uma decisão tomada rapidamente nesta reunião de emergência do conselho de ministros dos Negócios Estrangeiros e que demonstra a determinação da União Europeia em continuar a ajudar a Ucrânia a enfrentar a agressão russa", salientou.
Borrell remeteu para mais tarde as medidas detalhadas, referindo que só poderão ser definidas numa reunião formal, e manifestou-se certo de que será alcançado "um acordo unânime para as novas sanções".
João Gomes Cravinho frisou que Portugal vai apoiar esta decisão coletiva.
"Perante esta atitude russa, do Presidente Putin, não podemos ficar indiferentes. Reforçaremos as sanções, reiteraremos o nosso apoio à Ucrânia. E na declaração conjunta que saiu desta reunião há também a referência à continuação do apoio com equipamento militar para que a Ucrânia se possa defender contra esta agressão russa", indicou.
Durante a tarde de hoje, João Gomes Cravinho, que se encontra em Nova Iorque para a 77.ª Assembleia-Geral da ONU, vai participar numa reunião da NATO.
A expectativa do ministro para esse encontro é que vai encontrar "exatamente o mesmo estado de espírito, que é o de firmeza no apoio à Ucrânia e de não se deixar intimidar" pelas ameaças de Moscovo.
"Creio que, naturalmente, nos preocupam os sinais de desespero, sinais de desorientação que saem de Moscovo. Preocupa-nos também o sinal que é dado, que é um sinal de que estão dispostos a tudo para não perder a face. Mas há que apostar na finalidade e a racionalidade aponta para a necessidade de encontrarmos uma saída que passe pela retirada das forças russas da Ucrânia", salientou.
Antes do início da reunião de emergência dos MNE em Nova Iorque, o embaixador da Ucrânia na ONU, Sergiy Kyslytsya, disse a jornalistas que Putin "não poderia importar-se menos com os milhares de cidadãos russos que envia para a frente da guerra para serem mortos", assegurando que a Ucrânia "não tem medo" das ameaças do Kremlin.
Ao ser questionado pela Lusa sobre essas declarações de Kyslytsya, Cravinho afirmou que foi precisamente essa "enorme determinação" que sentiu quando visitou a Ucrânia, em finais de agosto, avaliando que essa é a atitude “natural para quem tem a sua casa invadida e precisa de a defender".
"Essa atitude ucraniana, naturalmente que também é reforçada pelo apoio que sentem por parte dos países amigos na Europa e no espaço transatlântico", acrescentou.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de quase 13 milhões de pessoas – mais de seis milhões de deslocados internos e quase sete milhões para os países vizinhos -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A invasão russa – justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia – foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções em todos os setores, da banca à energia e ao desporto.