“Era previsível que, quando a meteorologia se complicasse, estas situações, área ardida e todas estas consequências pudessem acontecer”, disse à agência Lusa o ex-presidente observatório técnico independente criado pelo parlamento até 2021 para avaliar os incêndios florestais.
Francisco Castro Rego, que também presidiu à comissão técnica independente que analisou os incêndios de 2017, recordou que em 2003 e 2005 aconteceram “situações semelhantes”, que depois voltaram a repetiram-se alguns anos mais tarde e novamente em 2017.
O professor catedrático afirmou que o país “está muito vulnerável às meteorologias complexas e essa vulnerabilidade vem ao de cima periodicamente”.
“O que temos assistido, e não é de agora, pelo menos de há 20 ou 30 anos, quando a meteorologia é mais favorável, as áreas ardidas são mais baixas e os governos e a população assumam que o problema está em vias de ser resolvido, mas depois o problema volta a aparecer com as mesmas consequências devido à falta de ordenamento do território e de supervisão suficiente”, sustentou.
O ex-presidente do observatório técnico independente destacou que, desde 2017, “houve de facto mudanças positivas”, nomeadamente na previsão meteorológica, evacuações e algum combate está mais musculado pela intervenção da Força Especial de Proteção Civil e GNR, mas “falta claramente passos significativos para que estas situações não se repitam com esta gravidade”.
Isto porque, segundo o académico, “o que se vê é que a meteorologia decide praticamente 80% do sucesso ou insucesso de cada um dos anos”.
Questionado se o dispositivo de combate respondeu bem e está mais bem preparado do que em 2017, Francisco Castro Rego afirmou ter dificuldade em responder e que deve existir “uma análise muito mais cuidado no sentido de se perceber, se, com aqueles índices meteorológicos e com as circunstâncias onde ocorreram, os incêndios podiam ser mais catastróficos”.
O especialista considerou ainda que devia ser novamente criada uma entidade técnica independente do poder político, sublinhando que estas características de independência “são muito importante e fazem falta”, porque as análises atuais “ou são feitas por entidades do Governo, como a Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais (AGIF), ou são objeto de arremesso politico da oposição”.
Para Francisco Castro Rego, “há pouca independência nestas observações” e estas análises “obrigam a uma visão com algum distanciamento, com mais profundidade e que permitam apontar para as soluções e para a monitorização”, uma vez que a situação atual ainda não permite que o país esteja “sossegado durante o verão”.
“É difícil fazer este julgamento em causa própria e não tinha que ser um observatório nos mesmos moldes, mas uma entidade que fosse tecnicamente competente e independente do poder político, como era o observatório e antes disso a comissão técnica independente”, sustentou.
Desde o dia 08 de julho que o país enfrentou perigo extremo de incêndio florestal devido às elevadas temperaturas, tendo ardido em 15 dias mais de 45 mil hectares de florestas, com fogos que durarem vários dias.