“Quem privatizou a ANA [empresa que gere os aeroportos] foi o PSD, que entregou ao PS aquela dádiva. Agora, o PS que tem nas mãos o poder de decidir e resolve dizer que vai esperar pelo PSD para encontrar uma solução. Aquele que privatizou vai agora emitir uma opinião. De certeza que é com uma visão de privatização, de andar para trás para que não seja encontrada uma resposta estratégica, de fundo, em relação ao aeroporto”, afirmou o líder comunista.
Jerónimo de Sousa, que falava na praia fluvial da Argaçosa, em Viana do Castelo, durante um convívio de mulheres CDU do Porto, criticou o adiar de uma “possibilidade real de começar o projeto, o estudo e realização da obra”.
“Não quer assim o Governo. Só entendemos tendo em conta os seus compromissos com a política de direta”, sustentou no discurso de cerca de 15 minutos.
Para o secretário-geral do PCP, a falta de decisão sobre a substituição do Aeroporto Humberto Delgado é ainda mais “preocupante” numa altura em que o país “precisa cada vez mais da produção nacional, de criar infraestruturas, de responder a problemas estruturais”.
“É uma obra de centenas de milhões de euros, que permite resgatar o espaço do aeroporto da Portela e dar resposta a esta grande possibilidade que temos de criar infraestrutura fundamental para os tempos que virão”, referiu.
Na quinta-feira, o primeiro-ministro, o socialista António Costa, determinou a revogação do despacho que apontava os concelhos do Montijo e Alcochete como localizações para a nova solução aeroportuária da região de Lisboa, desautorizando o ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, que no dia anterior apresentou esta proposta.
A solução apontada passava por avançar com o projeto de um novo aeroporto no Montijo complementar ao Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, para estar operacional no final de 2026, sendo os dois para encerrar quando o aeroporto no Campo de Tiro Alcochete estiver concluído, previsivelmente em 2035.
Na intervenção que proferiu, Jerónimo de Sousa acusou ainda o PS de ter pedido a maioria absoluta, não para resolver, mas para agravar os problemas do país.
“Com a maioria absoluta podia fazer o que quisesse, olhar para os salários, pensões e reformas, para o Serviço Nacional de Saúde (SNS) e para a escola pública. A maioria absoluta não é para resolver os problemas, a maioria absoluta é para os agravar, seguindo a política de direita”, referiu.
O secretário-geral, que no final do discurso não prestou declarações aos jornalistas, condenou a “indiferença” do PS em resolver os problemas que afetam o SNS, garantindo estar em curso “uma tentativa de assalto, por parte do privado para liquidar o SNS”.
“A direita económica que vive do negócio da doença, dramatiza e procura assaltar o SNS. Não temos ilusões em relação a isso. Como aconteceu noutros países. No momento em que claudicarmos e abdicarmos do SNS, em que o direito à saúde se transforma num direito do cliente, os portugueses iam ver, mas não vão porque nós estamos cá para resistir e lutar”, acrescentou.
No plano internacional, insistiu que a guerra na Ucrânia “nunca deveria ter começado” e sublinhou a necessidade de “tudo ser feito para alcançar a paz, para terminar conflitos e sanções, para procurar o diálogo entre as partes envolvidas”.