“Estamos a organizar-nos como oposição interna para acabar com estes amiguismos, esta falta de respeito pela militância do próprio partido Chega”, afirmou, em declarações à agência Lusa.
De acordo com o antigo dirigente, existem militantes, “certamente centenas”, que se sentem “injustiçados, sentem que foram descartados e não se sentem bem”.
“Há pessoas com muitas qualificações que deram a cara pelo partido desde 2019, outros de 2018, fundadores do partido, concorrentes às primeiras eleições, alguns até às europeias, e ficaram realmente descontentes pelo grupo parlamentar nem sequer lhes dar uma palavra, nem sequer saber das qualificações profissionais, nem sequer perguntar onde poderiam ajudar” e “depois veem entrar no partido toda a gente menos aqueles que colocaram André Ventura no primeiro mandato como deputado na Assembleia da República”, sustentou.
Para o ex-vice do Chega, “o partido não pode ser só André Ventura e seus amigos”.
José Dias apontou o caso de pessoas que “até vieram de outros partidos”, entraram para a direção “sem terem tempo, porque tinham que ter um ano” como militantes, e criticou que “essas pessoas é que tomaram conta do partido e essas pessoas agora é que são de confiança”.
E lamentou “a desfaçatez aos próprios militantes”, apontando que “a situação dentro do partido Chega tornou-se insustentável para quem está cá desde início”.
José Dias foi vice-presidente do partido durante dois anos, tendo saído da direção em maio do ano passado e assumiu ter ficado “chateado” por o presidente do partido não ter falado consigo.
Mesmo assim, defendeu que “estar na direção ou não estar era exatamente a mesma coisa, até porque o André Ventura é que decide tudo e o que estão lá a fazer [os membros da direção] é figura de corpo presente”.
“Opinam de vez em quando e o André Ventura decide, é assim que é a direção do Chega”, afirmou, apontando que “o partido é personalista, é de uma pessoa só, e essa pessoa decide tudo”.
“O André Ventura é humano, erra como nós todos, mas não pode errar tanto e tem que ter alguma consideração pelos militantes que o ajudaram a ser eleito para a Assembleia da República em 2019. Fico aborrecido com este descartar de gente que se revê no partido e está no partido desde a sua fundação”, defendeu.
Este antigo dirigente denunciou que o presidente do Chega “está numa redoma, meteram-no dentro de um casulo e ninguém tem acesso a ele”.
O antigo vice-presidente reconheceu, contudo, que esta oposição interna, “que é necessária”, não está ainda organizada.
“Vamos fazer jantares, vamos fazer reuniões, vamos ter conversas e vamos começar a fazer realmente oposição. Agora, é muito difícil, até porque o presidente do partido tem um mandato de quatro anos, ainda só passou um. Mas em política o que é hoje, não é amanhã e as coisas podem mudar, podem haver congressos extraordinários, etc…”, sustentou.
E o objetivo é serem “uma oposição construtiva, sempre a bem do Chega e sempre com vista ao crescimento do Chega e que os militantes sejam ouvidos, não sejam descartados a seu bel-prazer”, explicou.
José Dias, presidente do Sindicato do Pessoal Técnico da PSP, foi cabeça de lista pelo Chega no círculo de Castelo Branco nas eleições legislativas de 2019 e candidato à Câmara Municipal da Amadora nas últimas autárquicas.