“Nos últimos meses, ouvimos da Polónia uma retórica muito hostil, que tradicionalmente não tem sido amigável”, disse o porta-voz do Kremlin (Presidência russa), Dmitri Peskov, citado pela agência espanhola EFE, quando questionado sobre alegadas reivindicações polacas em relação à Ucrânia.
Segundo Peskov, é um “facto óbvio” que as ameaças à integridade territorial da Ucrânia “podem vir da Polónia”.
Peskov recusou-se a comentar declarações do Presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, de que Rússia, Ucrânia e Bielorrússia poderão, mais cedo ou mais tarde, ser forçadas a lutar em conjunto para impedir a Polónia de tentar controlar a Ucrânia ocidental.
O porta-voz do Kremlin remeteu para declarações recentes do diretor do Serviço de Informações Externas russo (conhecido pela sigla SVR), Serguei Naryshkin, sobre alegados planos dos Estados Unidos e da Polónia para Varsóvia controlar parte da Ucrânia.
“De acordo com informações recebidas pelo Serviço de Informações Externas, Washington e Varsóvia estão a trabalhar em planos para estabelecer um apertado controlo militar e político da Polónia sobre os seus bens históricos na Ucrânia”, disse Naryshkin, em 28 de abril, citado pela agência russa TASS.
“Estamos a falar de uma tentativa de repetir o ‘acordo’ histórico para a Polónia após a Primeira Guerra Mundial [1914-1918]”, referiu.
Na altura, segundo Naryshkin, as potências ocidentais reconheceram o direito da Polónia de ocupar parte da Ucrânia para proteger a população da “ameaça bolchevique” e, depois, a inclusão destes territórios na composição do Estado polaco.
O diretor do SVR disse que a primeira fase da “reunificação” passaria pela entrada de tropas polacas nas regiões ocidentais da Ucrânia para as “proteger da agressão russa”, decorrente da “operação militar especial” em curso desde 24 de fevereiro.
“O chamado contingente de manutenção da paz está planeado para ser destacado para as partes da Ucrânia onde a ameaça de confronto direto com as Forças Armadas da Federação Russa é mínima”, afirmou.
Naryshkin acrescentou então, segundo a TASS, que a Polónia acredita num “elevado grau de probabilidade” de o seu plano conduzir a uma cisão na Ucrânia.
Depois de ter anexado a península ucraniana da Crimeia em 2014, a Rússia invadiu novamente a Ucrânia em 24 de fevereiro, desencadeando uma guerra que entrou hoje no 72.º dia.
Numa fase inicial, as tropas russas atacaram alvos na zona ocidental da Ucrânia e tentaram conquistar Kiev, mas, nas últimas semanas, concentraram-se no leste e sul do país.
As autoridades ucranianas e aliados ocidentais acusaram a Rússia de pretender anexar novamente parte da Ucrânia.
A guerra na Ucrânia provocou um número por determinar de mortos, civis e militares, e mais de 5,5 milhões de refugiados, na pior crise do género na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).