Marcelo Rebelo de Sousa, que há um ano nesta data centrou o seu discurso na memória do passado colonial, dedicou hoje a sua intervenção na sessão solene comemorativa do 48.º aniversário do 25 de Abril às Forças Armadas, realçando a guerra em curso na Ucrânia, invadida por forças russas há 60 dias.
"Por que razão neste 25 de Abril falo das nossas Forças Armadas na democracia que temos de recriar jornada após jornada? Porque sem as Forças Armadas, e Forças Armadas fortes unidas e motivadas, a nossa paz, a nossa segurança, a nossa liberdade, a nossa democracia, sonhos de 25 de Abril, ficarão mais fracas", afirmou o chefe de Estado perante a Assembleia da República.
"Porque reconhecer como são importantes as Forças Armadas na nossa vida como pátria exige mais do que recordarmos por palavras essa sua importância. Porque se queremos Forças Armadas fortes, unidas, motivadas temos de querer que tenham condições para serem ainda mais fortes, unidas e motivadas", acrescentou.
O Presidente da República e Comandante Supremo das Forças Armadas pediu que se atue agora, advertindo: "Se não quisermos criar essas condições, não nos poderemos queixar de um dia descubramos que estamos a exigir missões difíceis de cumprir por falta de recursos, porque, se o não fizermos a tempo, outros o exigirão por nós, e depois não nos queixemos de frustrações, desilusões, contestações ou afastamentos".
"Nós sabemos que, mesmo quando lhes faltam esses meios, são das melhores das melhores, mas não nos habituemos ao simplismo de converter milagres em quotidiano modo de vida", aconselhou.
Marcelo Rebelo de Sousa argumentou que dar "mais meios imprescindíveis" às Forças Armadas "não é ser-se de direita ou de esquerda, conservador ou progressista, moderado ou radical, é ser-se pura e simplesmente patriota, em liberdade e democracia".
"E fazer isto não é só tarefa de um Presidente, de um parlamento, de um Governo. Requer um consenso nacional continuado e efetivo acerca das Forças Armadas como pilar crucial da nossa vida coletiva", defendeu.
Referindo a recente partida de forças militares portuguesas para a Roménia "em missão de paz, não de guerra" no quadro da NATO, o chefe de Estado considerou que não se pode "aplaudir ou clamar mesmo por maior envolvimento em ações externas" ou querer maior participação das Forças Armadas "em situações extremas" em Portugal e depois pensar "que há muito mais onde gastar dinheiro".
"Neste tempo em que a guerra surge como mais real ainda, em que a pandemia impôs necessidades mais evidentes, neste dia em que celebramos democracia e liberdade e em que percebemos como a paz e a segurança tocam as nossas vidas, não é de mais pensar, como pátria que somos, nas Forças Armadas que temos, nas que queremos ter e nas que precisamos de ter", insistiu.
Segundo o Presidente da República, este é um "desafio de todos, dos poderes públicos, da sociedade, de cada portuguesa, de cada português", para o qual é fundamental "a vontade popular".
"É urgente essa vontade popular constante e firme, para que a liberdade e a democracia, para as quais o 25 de Abril abriu pistas fundamentais que prosseguimos até hoje vivam sempre, para que esse sonho do 25 de Abril viva sempre, mas sobretudo para que Portugal viva sempre. Vivam a liberdade e a democracia, viva o 25 de Abril, viva não menos do que isso Portugal", concluiu.
No seu discurso, Marcelo Rebelo de Sousa associou as Forças Armadas ao "começo de Portugal" e assinalou que foram militares que fizeram o 25 de Abril.
Por outro lado, destacou as forças nacionais destacadas em missões no estrangeiro, na Roménia, na Lituânia, na República Centro-Africana, no Mali, no Mediterrâneo, no Golfo da Guiné, em Moçambique.
O Presidente da República sustentou que também aí se defende a paz e a segurança dos portugueses: "Porque as nossas fronteiras já não são as que foram. Porque no Báltico como no Leste Europeu as fronteiras da União Europeia são as nossas fronteiras, tal como noutros continentes as fronteiras da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) são as nossas".
"Se a paz não existir, a insegurança atingirá também as nossas vidas", disse, apontando os efeitos da guerra na economia e nos preços dos bens alimentares.
O chefe de Estado salientou ainda que as Forças Armadas "fazem mais, muito mais" em Portugal, "desinfetam lares e escolas, organizam vacinação nacional em pandemia, apoiam em incêndios florestais, cheias, catástrofes naturais".