“Vão se f…”, a frase dita pela dezena de guardas fronteiriços ucranianos da ilha da Cobra no primeiro dia da invasão russa, quando confrontados com a exigência de rendição por um navio, tornou-se, mais de um mês depois, um lema de resistência na Ucrânia, com a frase repetida à exaustão em centenas de ‘outdoors’ espalhados pelo país.
Em Kiev, Taila, um jovem estudante que serve agora nas forças de defesa territorial (uma unidade militarizada composta por civis preparado para defender as localidades), disse à Lusa que a “Ucrânia não se vai render nunca perante os cab… dos russos”.
E esse parece ser o lema em todo o país, com muitos ‘checkpoints’ ornamentados com frases de insulto aos russos e ao seu Presidente, Vladimir Putin, o principal visado. “Putin és um c…” é uma das frases mais repetidas nos postos de controlo que asseguram a entrada e saída das cidades.
No caminho entre Kiev e Dnipro, a grande cidade do centro do país e onde começa a cintura industrial da Ucrânia, o mau estado das estradas é acentuado pelo transporte logístico militar.
Após a queda iminente de Mariupol e o controlo russo do mar de Azov, o caminho russo deverá ser para norte, em direção a Zaporijia, já palco de combates desde há duas semanas, e a Dnipro.
Nas estradas, são visíveis muitos veículos militares em movimento, seja para transporte de tropas, combustíveis ou outro tipo de equipamentos, alguns deles selados em caixas de madeira.
Apesar dessa azáfama, há quem tente ter uma vida normal. Perto de Tcherkassi, são visíveis muitos tratores a lavrar a terra negra típica da Ucrânia (uma das maiores potências agroindustriais do mundo) e há mesmo funcionários que maquilham com alcatrão os buracos de algumas das estradas.
O caminho entre Kiev e Dnipro é sinuoso porque algumas das zonas no leste do rio Dniepre, que rasga o país, são palcos de combates, principalmente nas zonas perto da capital e na rota de Kharkiv, a segunda maior cidade ucraniana, junto à fronteira com a Rússia, que tem sido fortemente atacada pelas tropas russas.
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que causou, entre a população civil, pelo menos 1.081 mortos, incluindo 93 crianças, e 1.707 feridos, entre os quais 120 são menores, e provocou a fuga de mais 10 milhões de pessoas, das quais 3,7 milhões foram para os países vizinhos, segundo os mais recentes dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real de vítimas civis ser muito maior.
Segundo as Nações Unidas, cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.