“A responsabilidade do fracasso dos acordos trilaterais e também de dois acordos bilaterais paralelos, recai totalmente sobre a Ucrânia”, declarou hoje a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Maria Zakharova.
Segundo a porta-voz da diplomacia russa, o próprio Grossi reconheceu, num comunicado datado de 23 de março, que não se alcançou um resultado positivo, apesar de todos os esforços.
Zakharova indicou que a proposta de Grossi foi ativamente debatida pelas partes nas últimas semanas e afirmou que “a Rússia apoiou desde o início a iniciativa do diretor-geral da AIEA”.
“Estávamos dispostos a assinar o documento preparado pela AIEA, tal como foi apresentado pelo seu diretor. Mantivemo-nos em contacto estreito com Grossi a esse respeito”, afirmou, frisando que “as dificuldades para chegar a um acordo (…) não são culpa da parte russa”.
“A janela de oportunidade, na nossa opinião, ainda não está fechada”, acrescentou ainda.
“A Rússia continuará a fazer tudo o que dela dependa para garantir a segurança das instalações nucleares na Ucrânia no nível apropriado”, concluiu.
A AIEA propôs o acordo de segurança depois de as tropas russas tomarem o controlo das centrais nucleares de Chernobyl e Zaporijya, na Ucrânia.
Grossi tem defendido que se obtenha “um compromisso” de Kiev e de Moscovo para que seja assegurado o cumprimento de uma série de “normas básicas” que têm sido “repetidamente violadas” desde o início da invasão russa da Ucrânia, a 24 de fevereiro, e representam um “enorme risco” para a população “local, regional e europeia”.
Também argumentou que um acordo facilitaria a presença da organização no terreno nas centrais nucleares da Ucrânia, um fator “muito importante” como estratégia de “dissuasão” perante possíveis novas “situações perigosas” e também para ter acesso a informação “credível e objetiva”.
O acordo da AIEA assenta em sete princípios, entre os quais se encontram aspetos como preservar a integridade física de todas as centrais, manter as suas fontes de energia, garantir as condições de segurança dos trabalhadores e assegurar o acesso a equipamento ou componentes necessários para o seu funcionamento.
A ofensiva militar lançada na madrugada de 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de dez milhões de pessoas, mais de 3,7 milhões das quais para os países vizinhos, de acordo com os mais recentes dados da ONU – a pior crise de refugiados na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Segundo as Nações Unidas, cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.
A invasão russa – justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia – foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e a imposição à Rússia de sanções que atingem praticamente todos os setores, da banca ao desporto.
A guerra na Ucrânia, que entrou hoje no 30.º dia, causou um número ainda por determinar de mortos civis e militares e, embora admitindo que “os números reais são consideravelmente mais elevados”, a organização confirmou hoje pelo menos 1.081 mortos, incluindo 93 crianças, e 1.707 feridos entre a população civil.
Lusa