A erupção do vulcão San Juan, na mesma ilha, também se caracterizou por ser do tipo estromboliana, alternando fases explosivas com períodos de calmaria, em que se libertam grandes quantidades de piroclastos e lava, explica o biólogo e espeleólogo Francisco Govantes Moreno, no livro “A Caverna de Las Palomas”, citado pela agência Efe.
Nessa publicação, Francisco Govantes aborda as singularidades do tubo vulcânico criado naquela erupção e que, agora, pode ser visitado pelo público, sendo explorado como um recurso económico.
Govantes lembra que, em 1949, os “intensos terremotos registados semanas antes deram lugar a uma fissura eruptiva de dois quilómetros, de orientação noroeste-sudeste, que determinou que as bocas superiores funcionassem como condutos de desgaseificação, com explosões potentes, enquanto as inferiores eram basicamente efusivas, com emissão abundante de lava fluida”.
Esta descrição coincide com o que aconteceu com o atual vulcão Cumbre Vieja, com a exceção de que a fissura surgiu num nível bastante mais baixo, lançando a lava num terreno com menos inclinação, conhecido como Vale de Aridane, uma zona criada pelas primeiras erupções vulcânicas que formaram esta parte da ilha.
“Naquela aparatosa erupção do San Juan não houve perda de vidas humanas a lamentar, embora as perdas materiais tenham sido muito importantes, com dezenas de edificações, quintas e infraestrutura destruídos”, relata Francisco Govantes.
A erupção de 1949 do San Juan gerou dois fluxos – o de Duraznero e o de Llano del Banco – tendo o primeiro escorrido para a encosta oriental da ilha, em direção ao município de Mazo e sem atingir o mar, enquanto o segundo se dirigiu para Las Manchas, a oeste, desembocando no mar e formando o delta de lava de Las Hoyas, até hoje cultivado com bananeiras, na sequência da transformação feita, com grande esforço, pelos agricultores.
“O fluxo onde se formou a Cueva de Las Palomas foi o que desceu por Las Manchas, a uma cota de 500 metros de altitude, dando origem a um espetacular tubo vulcânico de elevado valor geomorfológico e paisagístico, catalogado como Área Natural Protegida e que tem sido, até agora, utilizado como recurso turístico e educacional”, indica o especialista em espeleologia.
Já o fluxo de lava de Mazo escorreu pelo que agora é conhecido como a ravina de lava, sem causar mais danos para além do corte de algumas estradas.
O atual vulcão Cumbre Vieja está, contudo, a gerar uma muito significativa inundação de lava, que se estende ao largo dos bairros de Todoque e de La Laguna, ocupando quase 1.000 hectares de território e soterrando cerca de 2.000 edificações, entre casas e armazéns agrícolas.
“Os efeitos deste vulcão para a população são catastróficos. Os danos são muito altos, como nunca teríamos imaginado antes”, diz Govantes.
Segundo conclui o biólogo, há que “esperar pelo fim da erupção para fazer uma avaliação dos danos totais, mas também para saber a importância científica que o vulcão e os seus fluxos de lava deixarão do ponto de vista geomorfológico e que poderá ter um elevado valor, incluindo do ponto de vista económico, para a ilha”.
Certo é que, em 42 dias de erupção do Cumbre Vieja, a paisagem do Vale Aridane mudou completamente, com um amplo manto de lava negra e densa a cobrir, atualmente, o que em tempos foram terras férteis, cultivadas ao longo dos anos.
A herança que será deixada pelo atual vulcão ainda está, assim, por definir. Se, atualmente, se contabilizam as enormes perdas económicas, que arrastam um futuro incerto os milhares de afetados pela erupção, esta pode também vir a ser uma oportunidade para um modelo de vida diferente em toda a zona, onde a lava escura pode vir a fazer parte de uma nova atividade socioeconómica mais sustentável, em linha com a própria natureza que a gerou.