As análises realizadas no âmbito deste estudo liderado por cientistas da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) permitiram verificar a presença generalizada de microplásticos (partículas com menos de cinco milímetros) – em “todas as espécies, colónias e anos do estudo”.
Na investigação, na qual participaram também especialistas da Universidade de Nova de Lisboa, do Museo Nacional de Ciencias Naturales (Espanha) e do British Antarctic Survey (Reino Unido), foram utilizadas amostras de fezes de três espécies de pinguins – pinguim Adelie (Pygoscelis adeliae), pinguim de barbicha (Pygoscelis antarcticus) e pinguim gentoo (Pygoscelis papua) – recolhidas entre 2006 e 2016.
Além das partículas de plástico, foram encontradas, “em quantidades semelhantes, outras partículas processadas, na maioria fibras, que, apesar de serem de origem natural (celuloses), são produzidas artificialmente e podem ter compostos, como tintas, que podem persistir no ambiente”, sublinha a UC, numa nota enviada hoje à agência Lusa.
Já publicado na revista Science of the Total Environment, este trabalho, segundo os autores, citados pela UC, “demonstra que os microplásticos estão cada vez mais difundidos nos ecossistemas marinhos, identificados agora na Antártida, o que é preocupante dada a sua persistência no meio ambiente e a sua acumulação nas cadeias alimentares”.
Joana Fragão, autora principal do estudo e investigadora do Departamento de Ciências da Vida da FCTUC e do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE), salienta que “o mais impressionante dos resultados foi verificar que os microplásticos estavam presentes na dieta das três espécies de pinguins, em vários locais e nos vários anos do estudo (2006, 2007, 2008, 2012, 2013, 2014 e 2016), o que demonstra que estas partículas se encontram já bem difundidas no ecossistema marinho Antártico”.
Por seu lado, Filipa Bessa, coautora da investigação e especialista em poluição por microplásticos da UC, afirma que, agora que se sabe “que várias espécies de pinguins de regiões remotas como a Antártida ingerem microplásticos, mas que não existe um foco específico para a origem destas partículas, o próximo passo é também avaliar os efeitos destas partículas nestes ambientes”.
Os resultados obtidos, frisa José Xavier, autor sénior do artigo científico, “vão certamente ser muito úteis para abrir novas áreas de investigação nesta temática e avançar com políticas para reduzir o impacto da poluição por plásticos no Oceano Antártico no contexto do Tratado da Antártida”.
Ou seja, concluem os três cientistas da FCTUC, “são necessários mais estudos para entender melhor a dinâmica espaço-temporal, destino e efeito dos microplásticos nesses ecossistemas, e controlar a contaminação por plásticos na Antártida”.