A Eurodeputada Liliana Rodrigues realizou ontem a abertura do debate A new mythology: what if Europa asks Zeus out?, uma organização conjunta da Culture Action Europe e do BOZAR – Centre for Fine Arts Brussels, com o apoio do programa Criative Europe, e com o objectivo de explorar a intersecção entre o género, a cultura e as possibilidades que oferece em termos de alternativas para a Europa.
“O sector cultural é muitas vezes visto como um espaço em que são possíveis formas alternativas de crítica e de colaboração e este debate foi o exemplo disso mesmo”, afirmou Liliana Rodrigues.
O Programa Europa Criativa, lançado pela Comissão em Janeiro de 2014, conta com um orçamento de € 1,46 mil milhões de euros para o período 2014-2020 (9% maior do que os anteriores), destinado a apoiar os sectores culturais e criativos europeus. Representa apenas cerca de 1% do orçamento da União Europeia. “É um orçamento escasso”, diz Liliana Rodrigues, “todos gostaríamos que fosse maior e devemos unir esforços para que tal se concretize. Ainda assim, o sector cultural e criativo europeu contribui para o crescimento económico, o emprego, a inovação e a coesão social. Só na União Europeia é responsável por mais de 7 milhões de empregos. 30 milhões no mundo inteiro. O potencial da cultura em termos de crescimento económico e criação de emprego é indiscutível. Essa é uma perspectiva sobre a cultura que não pode ser negligenciada.
Mas, de acordo com a opinião da deputada madeirense, esse não pode ser o único aspecto da cultura a ter em conta: “Preocupa-me hoje sobretudo o uso que pretendemos dar a esse orçamento. Sem questionar o direito de cada Estado-Membro decidir quais as prioridades no investimento cultural, importa pensar o papel da União Europeia neste domínio.
Liliana Rodrigues considera essencial investir numa política cultural que sirva de alicerce à construção de uma sociedade mais crítica e solidária, entendendo que “precisamos, acima de tudo, de uma política cultural que sirva para estruturar e aprofundar uma verdadeira cultura democrática e não assente exclusivamente numa ‘indústria’ cultural. Hoje, esta ‘nova cultura’, que queremos o mais ampla e acessível possível, parece esgotar-se no divertir e no entreter dos seus consumidores. É uma ‘cultura de massas’ que tudo inclui e tudo faz equivaler, sem qualquer critério que permita hierarquizar. Uma ‘cultura de massas’ que dificulta a criação de indivíduos independentes e capazes de julgar por si mesmos, de forma ponderada e crítica, a realidade que lhes chega. Cultura não significa quantidade ou acessibilidade, mas qualidade e sensibilidade. A democratização da cultura, feita através da educação e da promoção das artes, não tem de implicar a sua trivialização e vulgarização, a quantidade em detrimento da qualidade, a forma descartando o conteúdo”.
Integrando a Comissão da Cultura e Educação no Parlamento Europeu, Liliana Rodrigues é da opinião de que o sucesso de uma política cultural passará por nos afastarmos de um paradigma cultural subordinado ao consumo e ao politicamente correcto, “Entendo a cultura enquanto confronto de ideias, enquanto criatividade e possibilidade de mudança. A cultura só fará sentido se se comprometer com o seu tempo, nos mantiver lúcidos e despertar a sociedade da letargia e da indiferença cultivadas por essa outra cultura-espectáculo. Ou então arriscamo-nos a ter um mundo sem cidadãos, somente espectadores.
No caso específico da cultura e da igualdade dos géneros, a deputada socialista destacou a necessidade de estratégias que “incentivem a participação das mulheres, principalmente nos campos da produção e difusão de obras artísticas e intelectuais, combatendo assim a discriminação estrutural e generalizada vivida pelas mulheres neste domínio, promovendo uma representação equilibrada de mulheres e homens nas actividades artísticas e culturais públicas e no apoio financeiro, de forma a corrigir todas as desigualdades que ainda se fazem sentir nestas áreas.”