O presidente da Câmara Municipal de Los Sálias pediu no domingo aos cidadãos de Portugal, Espanha e Itália que ajudem a Venezuela, país que “deu tudo” aos imigrantes, mas que agora precisa de apoio.
“Peço aos países a que a Venezuela abriu as portas há 40, 50 anos, em aqueles momentos tão difíceis que a Europa estava vivendo, principalmente a Portugal, Espanha e Itália, que hoje olhem para a Venezuela”, disse José Fernández.
O autarca falava à agência Lusa à margem das festividades em honra de Santo António, na Praça de Portugal, em Los Sálias (25 quilómetros a sul de Caracas), e que evocaram ainda, localmente, o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.
“A Venezuela está passando muito mal. Hoje, nós, os venezuelanos, estamos passando muito mal e este país abriu as portas a todos”, frisou.
O político explicou que fala “dos portugueses porque vieram para a Venezuela e trabalham de 18 a 20 horas por dia, de segunda a domingo", tendo sido "fundamentais" para levantar o país, " que também deu tudo às comunidades que chegaram”.
Fernández acrescentou que há um ano e meio visitou vários municípios espanhóis para pedir medicamentos: “porque naquela altura não conseguíamos em lugar nenhum”, o que acontece agora, através duma fundação.
Segundo o autarca, atualmente há “vizinhos que estão em Portugal e conhecem a realidade”, pelo que qualquer ajuda “é muito importante”.
José Fernández disse estar honrado de participar nas celebrações e que “parte da comunidade de Los Sálias, de Santo António, é portuguesa”.
“Sou descendente de espanhóis, de galegos. Estudei em Espanha e conheço muito bem a Europa, mas tenho raízes na Venezuela e sinto que há muita necessidade nos venezuelanos. Por isso apelo a estes países, com tanta sensibilidade humana, que nos deem uma ajudinha, porque em breve recuperaremos a democracia, vamos reconquistar aquela Venezuela dos nossos pais e avós, mas, precisamos de ajuda”, frisou.
O político disse ainda ter ouvido que há “16 milhões de portugueses e que seis milhões deles emigraram nos últimos 30, 40 anos”, mas sublinhou que “nos últimos cinco anos, sete milhões de venezuelanos” abandonaram o seu país.
Por outro lado, lamentou que “principalmente na América Latina", de onde também recebem "peruanos, chilenos, colombianos, paraguaios, argentinos" se esteja "a fechar as portas aos venezuelanos", o que considera "muito injusto”.
“Não é o caso de Portugal, da Espanha e Itália, que vi que tratam bem os venezuelanos, os apoiam, dão-lhes trabalho (…), mas aqui estamos passando muito mal e peço que se lembrem do pai, do avô, que vieram para aqui e ajudem a Venezuela, porque a Venezuela continuará a apoiá-los”, frisou.
Por outro lado, lamentou que, sendo a Venezuela um país petrolífero e com muitos recursos naturais, esteja “tão mal, simplesmente por uma questão ideológica”, e acusou o regime de ter destruído “o país, a sua economia, a empresa petrolífera, o (…) arco de mineração, o comércio”.
Fernández afirmou ainda que os venezuelanos emigraram “porque não tinham como sobreviver” a “um projeto ideológico, que é semelhante ao cubano,” pelo que é preciso apoio da comunidade internacional, salientou.
Sobre o futuro diz que visualiza essa Venezuela que viveu quando criança em que teve “todas as possibilidades de estudar”.
“Fui e digo com orgulho, filho de uma ‘concierge’ [porteira], de imigrantes espanhóis. (…) A minha mãe pagou-me os estudos, desenvolveu-me como ser humano. Visualizo essa Venezuela, mas, enquanto lutamos, esperamos que nossos irmãos de todo o mundo nos ajudem”, concluiu.