No complexo de torres envidraçadas Chaowai SOHO, situado no distrito financeiro da capital chinesa, a recentemente inaugurada Madeira Home ("Casa da Madeira", em português), ostenta milhares de garrafas de vinho da Madeira, algumas datadas de finais do século XIX.
"Estávamos em busca de algo perdurável e que pudesse até ser herdado pela próxima geração", explica à agência Lusa a dona do estabelecimento, Zhang Ruoxi.
Zhang, que gere há dez anos anos, em conjunto com o pai, uma empresa de importação de vinho, tinha "dificuldade" em promover produtos devido às suas "características homogéneas", com "sabores e vinícolas com identidades semelhantes".
No vinho Madeira, porém, encontrou a "exclusividade" de um "sabor e legado únicos": a "longevidade" da produção vinícola, com garrafas armazenadas há mais de cem anos, aliada ao espírito de "aventura e exploração" da Era dos Descobrimentos portuguesa.
"O vinho passa de geração em geração: tem um caráter familiar", explica. "Isso é algo que valorizamos muito".
Retratos de navegadores portugueses, incluindo Vasco da Gama e João Gonçalves Zarco, o primeiro administrador do arquipélago da Madeira, e painéis de azulejos importados de Portugal, atribuem genuinidade ao estabelecimento.
Embora apenas cerca de 3% da população chinesa beba regularmente vinho, a China é já o quinto maior mercado do mundo, devido à sua dimensão populacional – 1,4 mil milhões de habitantes.
"As pessoas estão cada vez mais interessadas em experimentar novos tipos de vinho. Em Pequim ou Xangai, todas as noites os jovens saem para beber um copo", observa Zhang.
No espaço de uma década, a China construiu a maior rede ferroviária de alta velocidade do mundo, mais de oitenta aeroportos ou dezenas de cidades de raiz, alargando a classe média chinesa em centenas de milhões de pessoas.
O país asiático tornou-se o maior emissor de turistas e o maior mercado para marcas de luxo do mundo. As duas realidades confundem-se: os cerca de 170 milhões de chineses que viajaram para o exterior, em 2019, representaram mais de um terço de todas as vendas globais de bens de luxo, segundo analistas.
Em Xangai, Li Shuhua inaugurou, no ano passado, uma loja dedicada exclusivamente a produtos em cortiça importada de Portugal, após quase 20 anos a trabalhar com aquela matéria-prima como material complementar no calçado ou canas de pesca.
"Um material tão bom era usado apenas como complemento, foi então que pensamos: por que não utilizá-lo como material principal", conta à agência Lusa.
A marca, designada Kaoge, uma conversão fonética para chinês da palavra inglesa cork ("cortiça", em português), fabrica e comercializa sapatos, carteiras, bolsas, malas ou chapéus em cortiça.
Huang Xiaomian, o designer da marca, aponta a cortiça como paradigma da economia circular, numa altura em que o ambiente ocupa um lugar cada vez mais importante para os governos e consumidores.
"Se não nos importamos com o meio ambiente hoje, estamos a degradar o ambiente para os nossos filhos", aponta. "Tudo é um ciclo".
O designer chinês refere uma "consciencialização cada vez maior sobre a importância da sustentabilidade na indústria têxtil chinesa", onde "novos regulamentos estão a ditar a transição para material renovável".
As trocas comerciais entre a China e Portugal aumentaram 4,82% em 2020, em relação ao ano anterior, segundo dados das alfândegas chinesas. Pequim importou mais 19,6%, ou o equivalente a 2,3 mil milhões de euros, face a 2019.