“A Venezuela tem sofrido, durante os últimos anos, uma crise multidimensional que afeta à escala a população e que tem agudizado as falhas de serviços básicos como água potável, eletricidade, gás doméstico, internet e até o acesso a alimentos”, assinala-se num boletim da ONG Programa Venezuelano de Educação e Ação nos Direitos Humanos (Provea).
Segundo a ONG, as regiões do interior do país sofrem ainda “pela distância das capitais, a falta de oportunidades” e o “isolamento forçado” com o passar do tempo.
“Em Caracas os cidadãos podem fazer algo tão elementar como ligar o televisor, consultar o preço de um remédio pelo telefone ou falar com os amigos, em estados como o Amazonas (sul do país) isso não é possível. A falta de energia elétrica acontece diariamente, não há sinal telefónico e as comunicações são escassas”.
A Provea explicou que o estado de Amazonas (sul) tem a maior população indígena da Venezuela e que os habitantes “fazem do seu dia a dia uma viagem para conseguir alimentos” e medicamentos, no meio de constantes falhas nos serviços básicos e da pandemia” da covid-19 que os afeta diariamente.
Segundo a Provea, “crianças e idosos têm falecido de desnutrição e cada dia se registam mais casos, mortes sobre as quais as autoridades regionais pouco ou nada informam”.
“As crianças morrem por não terem comida, os adultos mais velhos por falta de remédios ou por complicações associadas à desnutrição”, sublinhou a ONG, precisando que em 2018 mais de 30 crianças faleceram por complicações relacionadas com a desnutrição no hospital Dr. José Gregório Hernández, mas “pelas vias oficiais não se soube mais nada deste tema”.
Há ainda a falta de combustível que “é cada vez pior e a distribuição não é constante”. Apenas é atribuído 20 litros para cada viatura particular e 40 litros para o transporte de passageiros e de carga, segundo um calendário local.
“A quantidade é insuficiente, obrigando os motoristas a comprar no mercado negro, a preços exorbitantes ou em moeda estrangeira, o que faz aumentar do preço os bilhetes”, explicou. Mas os utilizadores não conseguem dinheiro em notas para pagar as viagens e têm que caminhar horas para chegar ao destino.
“Os indígenas devem fazer caminhadas de dias inteiros por viverem em comunidades mais distantes”, sublinha.
Segundo a Provea, há bairros sem água nas canalizações, apesar de o Amazonas ter centenas de rios.
A população enfrenta ainda a falta de recolha de resíduos sólidos, que tem deixado o lixo ao ar livre.
C/Lusa