"Como as pessoas que tiveram covid-19 têm, na sua maioria, um estado de imunidade que dura pelo menos sete ou oito meses, é expectável que a vacinação confira imunidade por um período de pelo menos um ano", referiu, em declarações à Lusa, realçando que "as pessoas vacinadas produzem uma maior quantidade de anticorpos contra o vírus do que as pessoas que tiveram covid-19".
Contudo, segundo Luís Graça, que coordena o laboratório de investigação em imunologia celular no Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes, em Lisboa, "ainda não decorreu tempo suficiente para se saber a duração da imunidade" dada pelas vacinas.
"Precisamos de tempo para ver como evolui a imunidade das pessoas vacinadas ao longo de meses e anos", sublinhou, quando confrontado pela Lusa com a incógnita da duração da imunidade vacinal contra a covid-19, uma doença respiratória causada por um novo coronavírus (tipo de vírus) que se tornou pandémico.
As vacinas contra a covid-19 já aprovadas e administradas em várias partes do mundo, incluindo Portugal, apesar de baseadas em tecnologias distintas e com graus de eficácia diferenciados, são como que um manual de instruções para um exército de células do corpo produzir anticorpos (substâncias) capazes de neutralizar o coronavírus SARS-CoV-2 quando invade o organismo.
A duração da imunidade contra a covid-19 gerada artificialmente pelas vacinas (e não naturalmente pela infeção) ainda não é conhecida porque "os primeiros ensaios" clínicos "foram iniciados há poucos meses", lembrou Luís Graça.
De acordo com o imunologista Carlos Penha-Gonçalves, que trabalha no Instituto Gulbenkian de Ciência, em Oeiras, onde lidera o laboratório de genética de doenças, "as circunstâncias da pandemia puseram a exigência na segurança e eficácia imediata da vacina e não no seu efeito a longo prazo".
"As vacinas têm uma aprovação em regime de excepção, aprovação de emergência", acentuou à Lusa, adiantando que "os testes para avaliar a duração da imunidade vacinal precisam de um longo período de observação", por vezes anos, "que obviamente não é compatível com a necessidade da rápida entrada das vacinas no mercado".
Em situações normais, que não uma emergência sanitária como a covid-19, os ensaios clínicos "são mais prolongados no tempo", frisou o investigador, que propôs em junho, a par de outros cientistas, um roteiro para a testagem serológica da doença em Portugal.
Carlos Penha-Gonçalves esclareceu que para se perceber qual a duração da proteção dada pelas vacinas contra a covid-19 são precisos estudos de acompanhamento das pessoas vacinadas "ao longo de períodos largos", que permitam monitorizar a resposta imunológica, por exemplo medir a concentração de anticorpos, e a presença de sintomas e do vírus.
Tais estudos possibilitam também "definir quando serão necessários reforços vacinais".
"A periodicidade das vacinas depende da duração da imunidade", disse o imunologista, apontando que "o aparecimento de estirpes de SARS-CoV-2 que escapem à resposta imune gerada pela vacina determinará a produção de novas vacinas e a periodicidade da vacinação".