Questionado sobre o grau de transmissibilidade desta variante, o coordenador do estudo sobre diversidade genética do SARS-CoV-2 em Portugal afirmou que é cerca de 50% mais transmissível.
Se a variante do Reino Unido tinha em dezembro “um peso modesto”, neste momento tem “um peso muito sensível no número de casos de Covid-19 em Portugal”, disse, considerando que “funciona como um contrapeso muito considerável às medidas de confinamento”.
Na audição, João Paulo Gomes contou como a variante foi entrando no país: “Os alertas internacionais começaram a surgir em meados do mês de dezembro”.
“Apesar de ter sido reportada inicialmente no final do verão no sudeste do Reino Unido, à medida que foi ganhando prevalência no Reino Unido começaram os relatos da sua presença e espalhamento noutros países e Portugal não foi exceção”, relatou.
O INSA começou a investigar e começaram a surgir os primeiros casos em dezembro.
“Esses casos terão sido associados naturalmente com o massivo regresso dos nossos emigrantes a trabalhar no Reino Unido durante o mês de dezembro e também muitos turistas britânicos que vieram passar férias durante o mês de dezembro também a Portugal”, contou.
Portanto, terão ocorrido “imensas introduções” durante o mês de dezembro, disse, lembrando que na primeira quinzena de dezembro os viajantes do Reino Unido não eram obrigados a apresentar um teste negativo, nem tão pouco eram obrigados a ser testados nos aeroportos portugueses.
“Isso mudou e a partir de janeiro do mesmo do ano passaram todos a ser testados. No entanto houve muitas introduções e isso fez com que a variante do Reino Unido se espalhasse muito rapidamente”, sublinhou.
À data de hoje, estima-se que entre 35% e 40% dos casos totais de Covid-19 em Portugal já sejam causados por esta variante.
Em termos de evolução da sua prevalência se no início do mês de dezembro, as estimativas apontavam que não passaria de um percentual mínimo de 1%, neste momento “está em crescimento exponencial”.
Sobre o motivo de haver mais casos em Lisboa e Vale do Tejo, disse que por ser talvez a região para os quais há “dados mais robustos, mais consistentes”.
Também questionado sobre a variante do Brasil, o investigador do INSA disse que ainda não foi detetada em Portugal, mas ressalvou que não pode assegurar com certeza este facto.
“Posso dizer, no entanto, que estamos a fazer rastreios de base mensal em colaboração com um enorme consórcio laboratorial espalhada por todo o país para fazermos umas largas centenas de amostras com uma representação geográfica”, adiantou.
João Paulo Gomes afirmou que o foco agora é em casos suspeitos com historial de viagem no âmbito da colaboração e da informação que recebem das autoridades de saúde pública.
A atenção é nos casos de pessoas que vieram infetadas do Brasil ou que tiveram contacto com casos positivos com historial de viagem relevante, neste caso o Brasil, sendo as amostras correspondentes enviadas para o INSA para serem sujeitas à análise de caracterização genética por sequenciação, avançou.
No que diz respeito à variante da áfrica do Sul, disse que até agora foi identificado apenas um caso, mas as autoridades de saúde têm feito chegar alguns casos suspeitos ao laboratório.
“Agora temos a correr uma sessão de caracterização genética com alguns desses casos e, portanto, em alguns dias poderá ou não haver novidades”, rematou João Paulo Gomes.