A denúncia foi feita durante uma sessão da Comissão Permanente de Política Interior, durante a qual os deputados fizeram particular ênfase na “brutal repressão” dos últimos dias nas localidades de Guayana e Guajira, nos estados de Bolívar e Zúlia (sul e oeste do país, respetivamente).
Também “o sequestro [pelas forças de segurança] de Ricardo Campos, produtor agropecuário de El Socorro, no estado de Guárico”, a sul de Caracas, que segundo a deputada Dennis Fernández, está desaparecido desde há várias dias, e deverá “ser apresentado perante tribunais, apesar de não ter cometido delito algum”.
Durante a sessão, presidida pelo deputado Freddy Valera, vários deputados denunciaram, em Guayana, discussões pelo abastecimento de gasolina que desencadearam atos de violência, na última semana, durante os quais uma pessoa faleceu e um oficial da Guarda Nacional Bolivariana (polícia militar) foi hospitalizado com fratura de crânio.
Segundo os deputados José Gregório Salazar, Ângel Álvarez, Rachid Yasbek e Freddy Valera, a população está a ser humilhada e tem de fazer “fila intermináveis” de vários dias para conseguir os 20 litros de gasolina que permitem por viatura.
“Mas nas zonas do Arco Mineiro não falta combustível. Trocam gasolina por gramas de ouro”, explicou Freddy Valera, precisando tratar-se de “corrupção e cumplicidade dos organismos de segurança do Estado, que exploram o território com ‘ouro de sangue’”.
Em Zúlia, segundo José Luís Pilera, “a Guarda Nacional Bolivariana, a polícia e o exército são muito duros com a população que reclama pelos serviços, mas indiferentes com os delitos de narcotráfico e de contrabando de gasolina”.
Por outro lado, Juan Carlos Velazco acusou o regime de tentar “afogar o grito de auxílio de um povo cansado e esgotado de tanta incompetência”, insistindo que é necessário fazer chegar as denúncias sobre estes graves factos aos organismos internacionais.
Segundo o Observatório Venezuelano de Conflitos Sociais (OVCS), em setembro último registaram-se 1.193 protestos no país, o maior número registado em um mês ao longo de 2020.
Ainda segundo o OVCS, 90% dos protestos foram para condenar o colapso dos serviços básicos no país, para reivindicar direitos laborais, saúde e alimentação, alguns dos quais começaram em reclamação pela falta de combustível no país.
Em setembro, segundo o OVCS, 74 manifestações foram reprimidas, obstaculizadas ou impedidas, em 19 dos 24 estados do país.
Uma pessoa faleceu, 233 foram detidas e 52 ficaram feridas no âmbito dos protestos.