Esta estimativa avançada pela organização internacional representa um aumento de sete milhões de crianças face aos números atuais.
Antes da pandemia do novo coronavírus, 47 milhões de crianças em todo o mundo já sofriam de problemas de desnutrição, perda de peso e de magreza extrema, segundo sublinhou o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF).
Com a pandemia, este número “poderá atingir os quase 54 milhões nos primeiros 12 meses da crise", o que "poderá resultar em 10.000 mortes adicionais de crianças por mês", principalmente em países da África subsariana e na Ásia, indicou a agência da ONU, num comunicado.
“Passaram sete meses desde que foram relatados os primeiros casos de covid-19 e é cada vez mais claro que as consequências da pandemia estão a prejudicar mais as crianças do que a própria doença", afirmou a diretora-executiva da UNICEF, Henrietta Fore.
“A pobreza e a insegurança alimentar aumentaram. Os serviços essenciais e as cadeias de abastecimento de alimentos foram interrompidos. Os preços dos alimentos dispararam. O resultado é que a qualidade dos regimes alimentares das crianças diminuiu e as taxas de desnutrição vão aumentar”, prosseguiu a representante.
As conclusões da UNICEF são sustentadas numa análise publicada pela revista médica “The Lancet”, na qual vários investigadores alertaram para as consequências da pandemia da covid-19 na alimentação das crianças e para as potenciais carências alimentares.
“O impacto profundo da pandemia da covid-19 na nutrição das crianças mais novas poderá vir a ter consequências intergeracionais", declararam os investigadores no artigo publicado na revista especializada, advertindo que tal situação poderá prejudicar "o crescimento e o desenvolvimento dessas crianças”.
A análise destes investigadores abrangeu um conjunto de 118 países de baixo e médio rendimento.
Segundo estes peritos, a crise alimentar causada pela pandemia da covid-19 poderá aumentar em 14,3% a prevalência de perda de peso moderada ou grave em crianças com menos de 5 anos de idade.
Numa carta aberta igualmente publicada pela revista “The Lancet”, a UNICEF e outras três agências do sistema da ONU – a OMS (Organização Mundial da Saúde), a PAM (Programa Alimentar Mundial) e a FAO (Fundo da ONU para a Alimentação e a Agricultura) – apelaram para “uma ação imediata”.
Estas agências estimam que serão necessários 2,4 mil milhões de dólares (cerca de dois mil milhões de euros) para conseguir os meios necessários para proteger as crianças que se encontram em situações mais vulneráveis.
“Precisamos de pôr em prática ações e investimentos substanciais para a nutrição, de forma a enfrentar a crise da covid-19 e as suas repercussões na fome e na desnutrição infantil", defenderam as agências da ONU.
Desde que o novo coronavírus foi detetado na China, em dezembro do ano passado, a pandemia da doença covid-19 já provocou mais de 654 mil mortos e infetou mais de 16,5 milhões de pessoas em todo o mundo, segundo o balanço mais recente feito pela agência France-Presse (AFP).
C/Lusa