“O que hoje nos deixa satisfeitos é que finalmente – porque foi preciso um mês e meio – há um tratamento de igualdade na retoma de espetáculos culturais”, referiu, à agência Lusa, Hélder Milheiro, secretário-geral da ProToiro – Federação Portuguesa de Tauromaquia.
O responsável reagia à publicação pelo IGAC de uma atualização às normas que permitem a retoma das corridas e espetáculos taurinos.
Anteriormente, as autoridades ligadas à saúde e à cultura apontavam para uma lotação nas praças inferior a 50%, mas a norma 26 foi hoje atualizada, lendo-se que “deve ser garantida a existência de um lugar de intervalo entre cada lugar ocupado [exceto se coabitantes], cumprindo sempre que possível o distanciamento de um metro entre cada pessoa, na mesma fila”, o que na prática resulta na possibilidade de ocupação das praças em cerca de metade da lotação habitual.
O documento publicado no ‘site’ do IGAC adverte, no entanto, que “nas praças onde a distância entre filas é inferior a 80 centímetros [referindo-se ao espaço do assento] deve ser garantida uma fila livre [sem ocupação] entre cada fila ocupada”.
Sobre este dado Hélder Milheiro explicou que esta imposição recai sobre “um número muito limitado de praças”, talvez “uma mão cheia delas e não mais”, disse o secretário-geral da ProToiro.
“Nas restantes praças, podem ser ocupadas todas as filas, desde que os lugares ocupados estejam desencontrados. As filas e os lugares a ocupar devem estar devidamente sinalizados”, termina a descrição de uma norma que gerou polémica nas últimas semanas.
“As normas anteriores obrigavam a ter uma fila desocupada de separação entre cada fila ocupada, enquanto as outras atividades [culturais] não é assim. Isso inviabilizava o espetáculo em termos financeiros. Já 50% da lotação é muito complicado, um quarto ou um terço é inviável”, referiu Hélder Milheiro.
O responsável frisou que o setor tem “uma enorme preocupação com a segurança e a saúde pública” e “quer aplicar todas as precauções e normas de segurança necessárias”, mas reiterou a exigência de “igualdade de tratamento com todas as áreas culturais”.
“Não queremos nem mais, nem menos, queremos o mesmo tratamento. Os empresários são claros e dizem que pelo menos 50% de lotação é o mínimo para se poder ter uma produção digna e o pagamento de ‘cachets’ razoáveis. Ficamos contentes com essa atualização que era exigível e não é nenhuma benesse. Lamentamos o tempo que demorou, mas está corrigido e agora é olhar para a frente e retomar”, acrescentou.
Outras das alterações introduzidas no documento, que substitui um anterior publicado em 22 de junho, refere-se aos testes ao novo coronavírus que serão realizados aos forcados com uma antecedência de 36 horas.
“Os forcados vão fazer testes pela proximidade [que mantêm] entre eles [durante o espetáculo]. Não temos nenhum problema quanto a isso. Antes era obrigatório o teste com 24 horas e agora pode ser com 36 o que é positivo por motivos logísticos”, comentou Hélder Milheiro.
O “novo normal” da tauromaquia inclui ainda, descreveu à Lusa a ProToiro, “uma grande redução de pessoas na trincheira”, algo que “não é visível ao público” que no entanto se poderá surpreender com a ausência das tradicionais voltas à arena, algo eliminado “para evitar movimentação de pessoas na bancada”.
A publicação desta atualização acontece depois de reuniões entre o setor e as autoridades culturais e de saúde, bem como de protestos como o que levou em 01 de junho cerca de uma centena de artistas de tauromaquia a concentrar-se junto ao Campo Pequeno, numa manifestação contra a não reabertura dos espetáculos tauromáquicos.
Nesse dia, os toureiros António Telles, Luís Rouxinol, Rui Fernandes e José Luís Gomes algemaram-se ao portão do Campo Pequeno, exigindo a retoma das atividades.
Em 06 de junho, numa visita a Évora, a Ministra da Cultura, Graça Fonseca, disse que os espetáculos tauromáquicos seriam retomados “assim que as regras” para esse reinício “estiverem aprovadas” pela DGS.
Já em 01 de julho, em Elvas, nas cerimónias de reabertura das fronteiras, que juntaram os chefes de Estado e de Governo de Portugal e Espanha, o presidente da Associação Nacional de Toureiros, Nuno Pardal, explicou a sua presença no evento por ser “importante” estar junto do poder político quando o setor está “parado” e exige “igualdade” para que possam desenvolver a sua atividade.
“Queremos trabalhar”, resumiu hoje Hélder Milheiro, lembrando as “grandes dificuldades” do setor devido à sazonalidade e aos custos associados com os animais, estimando a ProToiro que para tratadores, veterinários, e alimentação cada cavaleiro necessite de “pelo menos” 5.000 euros por mês.
Hoje à noite, às 22:00, realiza-se uma corrida de toiros em Estremoz, no distrito de Évora, com os cavaleiros Rui Salvador, António Brito Paes, João Moura Caetano, Manuel Telles Bastos, Ana Rita e Parreirita Cigano, bem como os forcados amadores de Arronches e Académicos de Elvas.
A pandemia de Covid-19 já provocou mais de 560 mil mortos, incluindo 1.654 em Portugal.