"Há um sentimento de que ainda falta fazer justiça", disse à agência Lusa a presidente da Associação de Vítimas do Incêndio de Pedrógão Grande (AVIPG), Dina Duarte.
No dia em que se assinalam três anos do incêndio que matou 66 pessoas, a responsável salientou que os familiares que regressam todos os anos à região notam que pouco mudou.
"Contavam que o território estivesse diferente. Dizem: ‘Perdi o marido, o filho ou familiar e afinal está tudo igual não valeu por nada. As vidas deles foram em vão’", recordou Dina Duarte, salientando que o grande papel da AVIPG é garantir que as instituições públicas não deixam cair o tema e defender e recordar que há melhorias e alterações a fazer no território.
Para além disso, o sentimento está também associado ao próprio processo judicial associado ao incêndio, cuja fase de instrução já terminou, mas aguarda decisão do Tribunal da Relação sobre um recurso apresentado.
"Eu acredito que vai ser feita justiça. Não pode não haver justiça, mas é tão lenta que as pessoas ficam à espera de uma solução, de um fim de ciclo de luto que não acontece", notou a presidente da associação, considerando que isso também faz falta para "algumas famílias ficarem em paz com elas próprias – que a justiça vai ser feita e que vai apurar-se alguma coisa".
Passados três anos do incêndio, Dina Duarte esperava outro "grau de execução" das promessas que o Governo foi fazendo em torno da floresta e do despovoamento do interior.
"Eu considerava que as coisas estariam muito diferentes. Passaram três anos e vejo que começa alguma coisa, mas é muito ténue", constatou.
Os eucaliptos crescem de forma desordenada e sem gestão, ao longo dos montes veem-se milhares de árvores queimadas ainda de pé e "não houve qualquer investimento de grande dimensão para manter os jovens cá", observou.
Entre os associados da AVIPG e os habitantes deste território, cresce um sentimento de inquietação em relação ao futuro, face à possibilidade de um outro incêndio de grande dimensão.
"Todos nós temos esse receio. Entre nós, dizemos que mais dia menos dia, quando ele vier, será semelhante ao que foi, talvez sem tantas mortes, mas com um grau de destruição grande", sublinhou.
Apesar disso, Dina Duarte consegue olhar para o futuro do território "com alguma esperança", vincando que a associação vai empenhar-se "para que algumas coisas não voltem a ser as mesmas".
"Não se pode dizer que está mal e depois continuam a esvaziar-nos de pessoas. O interior tem que ganhar pessoas, mas só com investimento a sério e com políticas que as empresas sintam que é possível", realçou.
Questionada sobre se gostava de ter tido o primeiro-ministro, António Costa, presente na missa que decorreu hoje de manhã, onde se fez representar por dois ministros e onde esteve presente o Presidente da República, Dina Duarte afirmou que ter o líder do Governo presente "seria importante".
"Nós percebemos que há outros valores que se levantam, neste caso o Orçamento Retificativo. Só espero que no próximo 17 de junho não haja um orçamento retificativo ou qualquer outro motivo para não poder vir até ao território", disse.
C/Lusa