Em declarações à Lusa, uma estudante da Residência II, que preferiu manter o anonimato, mas que falava em nome dos 11 residentes, disse que os estudantes decidiram hoje encerrar o edifício, trancando portas e grades, para evitar a transferência dos dois estudantes da Residência I, conforme pretende a direção da faculdade, para poder rapidamente proceder à desinfeção do edifício.
A resistência à transferência, apoiada pelos estudantes de ambos os edifícios, tem por base o risco de contágio por Covid-19, uma vez que a funcionária dos Serviços de Ação Social da Universidade de Lisboa (SASUL) que tem gabinete no edifício da Residência I, testou positivo para a doença na passada sexta-feira, tendo já tido um teste inconclusivo na terça-feira anterior, mantendo-se em funções e em contacto com os estudantes ao longo desse intervalo.
Segundo a aluna que falou à Lusa, uma estudante da Residência I foi esta madrugada transportada para o hospital pelo INEM com suspeitas de infeção por Covid-19, tendo já regressado ao edifício, onde se encontra em isolamento e a aguardar os resultados do teste.
Os estudantes, que ainda não comunicaram à direção que se trancaram na residência, tiveram na segunda-feira uma reunião com a direção, durante a qual foram informados do que seria feito em relação à situação.
Foram informados de que tinham teste de despiste à Covid-19 marcado para sexta-feira no centro universitário e que teriam que assegurar por meios próprios a sua deslocação até lá, usando os transportes públicos, se fosse caso disso, sendo que a FMH se localiza em Oeiras, concelho vizinho do de Lisboa, e o centro na Cidade Universitária no Campo Grande, em Lisboa.
Por entenderem que o plano de ação imposto não respeitava as orientações da Direção-Geral da Saúde (DGS) para casos de possível infeção, questionaram a direção sobre esse facto, que transmitiu que o plano tinha sido decidido em acordo com um vice-reitor da ULisboa e com o delegado de saúde, relatou a estudante.
Os estudantes entraram depois em contacto com a linha SNS24, com a DGS e com a PSP, tendo obtido sempre como resposta destas entidades que nada podiam fazer por eles, uma vez que não eram casos reportados às autoridades de saúde como casos suspeitos.
Depois de na terça-feira conseguirem entrar em contacto com o vice-reitor da ULisboa – que não identificaram -, obtiveram a confirmação de que não tinha havido envolvimento nem da DGS nem de qualquer delegado de saúde na decisão tomada e que a realização de testes agendada para estes alunos foi feita num âmbito profilático, de iniciativa da universidade para um regresso à atividade normal, e não como um possível caso de infeção comunitária por contacto com uma pessoa com resultado positivo.
“Não queremos ir contra quem gere as residências, mas temos que fazer qualquer coisa por nós”, disse a estudante, que acrescentou que os residentes do edifício tentaram, entretanto, junto de uma unidade de saúde de Oeiras entrar em contacto com um delegado de saúde, com o objetivo de terem um acompanhamento oficial das autoridades de saúde.
Na quinta-feira, data marcada para a transferência dos dois estudantes da Residência I para a Residência II, os alunos esperam ter a presença da direção da FMH “em peso” no local, mas garantem que se recusam a aceitar que essa transferência aconteça.
“Quiseram resolver isto internamente e da forma mais rápida possível”, disse a estudante.
Acusam a direção de ter um ponto de vista inflexível e exigem que lhes seja garantido ou o transporte em segurança para o local onde têm o teste de despiste à Covid-19 agendado ou que este seja realizado nas instalações onde se encontram.
A Lusa contactou a Universidade de Lisboa e aguarda resposta.