“Os seus diálogos com o mundo da Cultura e das Artes em Portugal, através das sua poesia, das suas crónicas e das interações com os criadores, abriram novos caminhos à Igreja portuguesa e fizeram com que muitos regressassem à fé e que outros olhassem e lessem de outra forma os Evangelhos”, afirmou José Manuel Rodrigues na cerimónia de entrega da Medalha de Mérito da Região Autónoma, o mais alto galardão do arquipélago ao cardeal madeirense.
A atribuição da Medalha de Mérito pelo parlamento madeirense constitui um reconhecimento do percurso de vida do Cardeal, poeta e professor, nascido em dezembro de 1965, no concelho de Machico, no extremo leste da Madeira.
José Tolentino Mendonça, 54 anos, é o segundo membro mais jovem do colégio cardinalício, após o cardeal de Bangui (República Centro-Africana), Dieudonné Nzapalainga, de 52 anos.
Sobre a atribuição do galardão ao cardeal, o presidente do parlamento madeirense destacou: “Nada mais justo para quem fez um percurso inigualável na Igreja Católica sem nunca esquecer as suas raízes de ilhéu e as suas origens”.
Mencionando que a região assinala os 600 anos da sua História “marcada pelo cristianismo, não havia melhor prenda que ver um dos seus ilustres filhos” ter sido “escolhido como um dos eleitos para o Colégio de Cardeais da Igreja Católica”.
“Quanta Honra e quanto Orgulho para todos nós [madeirenses], D. José Tolentino!”, declarou José Manuel Rodrigues.
O responsável destacou que num dos seus poemas, o cardeal diz: “No princípio era a Ilha…”, acrescentando que agora se tornou “um homem da Igreja global”, que é motivo de orgulho para a Madeira.
“Nunca ninguém conjugou tão bem a insularidade com a universalidade, a raiz com a floresta e a simplicidade com a profundidade da mensagem dos evangelhos”, realçou.
José Manuel Rodrigues também recordou que a diocese do Funchal “já foi a maior do Mundo” e “volta a ter um dos seus numa missão relevantíssima para uma Igreja que se procura regenerar, rejuvenescer e ir ao encontro de novas realidades, de outras crenças e de diferentes culturas”.
O responsável do principal órgão de governo próprio da Madeira disse que José Tolentino Mendonça tem a “árdua tarefa da transpor para toda a Igreja essa abertura e essa modernidade”, contribuindo para “voltar às origens de uma Igreja que sabe estar com quem cria e sabe, mas também sabe levantar do chão os que sofrem e os que ficam na ultraperiferia do desenvolvimento”.
José Manuel Rodrigues falou do drama da emigração e imigração, como dos que são “forçados a sair da conturbada Venezuela” e têm de ser acolhidos e integrados, dos “inocentes que pereceram e continuam a morrer em Caracas e em Valência, na Síria e no Iraque, no mar Egeu e no Mediterrâneo, sem que alguém lhes tivesse estendido uma mão protetora”.
“A pobreza e a exclusão social continuam a marcar os nossos tempos” e “há meninos que continuam a nascer em grutas, pais sem trabalho, idosos abandonados nos hospitais e jovens à procura de futuro”.
Por isso, defendeu que “a economia tem que mudar, que a sociedade tem que recuperar valores”, a comunidade deve continuar solidária, indicando que só é possível “atingir o patamar da igualdade de oportunidades e da afirmação e emancipação de todos pela via da Cultura e da Educação”.
Ainda opinou que a ação da Igreja na região é algumas vezes esquecida, destacando o seu papel “ao longo de séculos, no apoio aos mais pobres e vulneráveis e como esse trabalho continua nos dias de hoje, com discrição e longe das luzes da ribalta”, com instituições na área da saúde, educação, património.
A cerimónia contou com presença de representantes civis, religiosos e militares.
C/Lusa