"Estamos a preparar várias jornadas de recolha de medicamentos e alimentos, a nível regional. O primeiro já tem data e lugar, será na Paróquia Sagrada Família, no Funchal, nos dias 23 de fevereiro na missa das 19:00 ou no dia 24 de fevereiro na missa das 08:30”, disse à agência Lusa a responsável pela organização na Madeira.
Aura Rodriguez apela a todos os “que possam e queiram podem trazer a sua ajuda”, estando também disponível “o mealheiro da Venexos para angariar fundos para poder enviar a carga”.
“Temos como meta fazer pelo menos dois envios por mês, com carga nunca inferior na totalidade a 50 quilos”, adiantou.
A responsável salientou quer “a grande preocupação” da Venexos “é poder ajudar cada dia mais a minimizar o número de pessoas que estão a morrer por desnutrição, por falta de medicamentos, ou ambas”.
“Toda a carga é inventariada e posteriormente embalada para envio conforme a necessidade da fundação para onde vai”, apontou.
Também realçou que “dada a situação do país [Venezuela], a carga não sai como ajuda humanitária”, explicando: “Porque sabemos que não teríamos os resultados que temos, também temos pessoas dentro do programa de ajuda humanitária na Venezuela que são responsáveis pela receção e posterior entrega às diferentes fundações”.
Aura Rodriguez realça que para fazer chegar os medicamentos e os alimentos à Venezuela, muitas vezes têm de usar de “engenho e arte”, dando como um dos exemplos o “caso dos cereais, que são tiradas as caixas para minimizar o peso”.
“Tudo segue através de Barcelona, passando por Lisboa, mas depois não podemos dar mais informações públicas sobre aeroportos e outros elementos”, salientando que os bens acabariam por se extraviar.
A responsável assegura que “não há hipótese dos alimentos e medicamentos chegarem ao mercado negro, porque tudo passa pelas instituições humanitárias”.
Quanto à medicação, destaca que “é entregue mediante receita médica e está tudo computadorizado, pelo que as pessoas não podem enganar e receber mais do que necessitam”.
Aura Rodriguez complementa que a Venexos e as pessoas que estão envolvidas no projeto têm as suas próprias “redes sociais que dá o ‘feedback’ da chegada às fundações e entrega às pessoas necessitadas”.
Os medicamentos mais solicitados são os antibióticos pediátricos e para adultos, anti-hipertensivos, antidiabéticos, anticonvulsivos, para a doença de Parkinson, anticoagulantes, antialérgicos, esteróides, respiratórios, imunossupressores, vitaminas para crianças, adultos e grávidas e antiarrítmicos.
Em matéria de alimentos, os mais pedidos são leites (em pó) e fórmulas infantis, papas lácteas, alimentos lácteos, cereais, boiões, pacotes, saquetas ou copos de fruta e refeições em boiões ou copos.
A responsável realçou que “dada a urgência e necessidade em várias oportunidades saíram caixas da Madeira que levavam alimentos e só desde 2018 é que estão a ser separados dos medicamentos”.
“Em novembro e dezembro enviamos 33 quilos de medicamentos e 55 de alimentos. Em 2019, foram 32 quilos de medicamentos e 128 de alimentos”, complementou.
A Venexos é uma organização não-governamental que surgiu em Lisboa em 2016 e está integrada no programa de ajuda humanitária, reconhecido pelo US Aid, com sede nos EUA, sendo que todos os membros são venezuelanos e alguns têm dupla nacionalidade. Estão divididos em cinco núcleos: Lisboa, Faro, Aveiro, Funchal e Porto.
A Venezuela vive uma grande instabilidade política desde 10 de janeiro passado, quando Maduro tomou posse após umas eleições que não foram reconhecidas como legítimas pela maioria da comunidade internacional.
A crise política agravou-se em 23 de janeiro, quando o líder da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, se autoproclamou Presidente da República interino e declarou que assumia os poderes executivos de Nicolás Maduro.
Guaidó, 35 anos, contou de imediato com o apoio dos Estados Unidos e prometeu formar um governo de transição e organizar eleições livres.
Nicolás Maduro, 56 anos, no poder desde 2013, recusou o desafio de Guaidó e denunciou a iniciativa do presidente do parlamento como uma tentativa de golpe de Estado liderada pelos Estados Unidos.
A maioria dos países da União Europeia, entre os quais Portugal, reconheceram Guaidó como Presidente interino encarregado de organizar eleições livres e transparentes.
Esta crise política soma-se a uma grave crise económica e social que levou 2,3 milhões de pessoas a fugirem do país desde 2015, segundo dados das Nações Unidas.
Na Venezuela, antiga colónia espanhola, residem cerca de 300.000 portugueses ou lusodescendentes.
LUSA