Um total de 147,3 milhões de brasileiros são chamados a votar este domingo para as eleições gerais no país, onde estarão em disputa as eleições presidenciais, para o parlamento (Câmara dos Deputados e Senado) e para representantes dos governos regionais.
As urnas de voto serão abertas pelas 08:00 e têm o seu encerramento previsto para as 17:00 de cada fuso horário. As últimas urnas eletrónicas a fechar serão no estado do Acre, 21:00 em Lisboa.
Se houver uma falha na urna eletrónica e na impossibilidade de substituição por outra do mesmo tipo, é utilizado o sistema tradicional de voto.
No Brasil, o voto é obrigatório por lei para todos os alfabetizados com idades compreendidas entre os 18 e os 70 anos, estando cada cidadão sujeito a multa, caso não o faça.
Jair Bolsonaro, candidato do Partido Social Liberal (PSL) é quem lidera a corrida às presidenciais, com 35% das intenções de voto dos brasileiros, contra 22% do segundo colocado, Fernando Haddad, que encabeça o Partido dos Trabalhadores (PT).
No entanto, são também estes dois candidatos que obtém a maior taxa de rejeição do eleitorado, segundo as últimas sondagens. O capitão reformado manteve a percentagem de 45% e o candidato do PT registou 40% de rejeição.
Esta é já considerada uma das eleições mais atípicas das últimas décadas, com uma forte polarização política entre a extrema-direita e a esquerda, situação que foi bastante criticada pelos restantes candidatos às presidenciais, no último debate televisivo antes das eleições, que decorreu na quinta-feira.
O candidato da extrema-direita, Jair Bolsonaro, afirmou, na semana passada, não aceitar o resultado da eleição caso não seja ele o vencedor. “Pelo que eu vejo nas ruas, não aceito um resultado das eleições diferente da minha eleição”.
A polémica declaração, que gerou críticas entre os demais candidatos, foi gravada no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde Bolsonaro esteve internado durante 23 dias, após ter sofrido uma facada durante um ato de campanha, em Juíz de Fora. O candidato recebeu alta hospitalar a uma semana dos brasileiros irem às urnas.
Bolsonaro disse ainda duvidar do crescimento do PT nas sondagens e reforçou a dúvida sobre a transparência do sistema eleitoral.
"Foi um absurdo o PT crescer [nas sondagens]. Não existe isso: o que eu sinto nas ruas, o que eu vejo nas manifestações, é um sinal claro de que o povo está do nosso lado e, da forma como isso é demonstrado, não dá para a gente aceitar passivamente a fraude", afirmou o candidato populista.
Considerado uma pessoa polémica, que desperta paixões, ódios e controvérsia, Bolsonaro já foi condenado por injúria e apologia ao crime de violação após ter afirmado publicamente que uma colega parlamentar não merecia ser violada porque era muito feia.
Bolsonaro foi também acusado pela Procuradoria-Geral do Brasil de praticar o crime de racismo, em 2016, quando comparou descendentes de negros africanos que fugiram antes da abolição da escravidão e vivem em comunidades rurais demarcadas no interior do Brasil com animais.
Ao longo da campanha eleitoral, Fernando Haddad evitou atacar diretamente o seu adversário, mas mudou a estratégia na última semana face ao crescimento de Bolsonaro nas sondagens e perante as constantes críticas à formação de esquerda por parte do candidato do PSL.
O substituto de Lula da Silva no PT, tem acusado Jair Bolsonaro de colocar em risco o sistema democrático brasileiro, chegando a traçar comparações entre o candidato da extrema-direita e o antigo governo ditatorial português liderado por António de Oliveira Salazar.
“Acho que os portugueses que conhecem o salazarismo e sabem tudo de ruim que o fascismo traz para o mundo, deviam ficar preocupados com a eleição no Brasil”, disse Haddad à imprensa portuguesa, durante um ato de campanha no Rio de Janeiro.
Também Adolf Hitler foi mencionado pelo PT como modelo de comparação com Bolsonaro. Num video divulgado na quinta-feira, nas redes sociais do Partido dos Trabalhadores, foram misturadas declarações polémicas do candidato da extrema-direita com a figura e com discursos do líder nazi.
Fernando Haddad tem aproveitado para se dirigir ao eleitorado feminino, que representa 52% dos eleitores brasileiros, e é o público que maior rejeição apresenta contra o candidato da extrema-direita.
Haddad afirmou que, caso seja eleito, irá fixar uma meta para a presença de mulheres no governo.
"Entendemos que isso faz parte da democracia e a mulher tem muito pouca participação no Brasil em comparação com países desenvolvidos e mesmo com países latino-americanos", disse o substituo de Lula da Silva no PT.
A corrida eleitoral tem sido marcada por fortes protestos, quer no Brasil quer em vários países com comunidade brasileira, contra o candidato do PSL, devido, principalmente, aos seus comentários depreciativos sobre mulheres.
E são as mulheres que mais meios têm mobilizando para tentar impedir uma possível vitória de Bolsonaro.
Depois de terem criado um grupo na rede social Facebook, denominado “mulheres unidas contra Bolsonaro”, que rapidamente atingiu os 3 milhões de participantes, o eleitorado feminino saiu às ruas no passado fim de semana, mobilizando milhares de pessoas.
Numa eleição marcada por disputas entre a esquerda e a extrema-direita, os restantes candidatos seguem bem abaixo nas intenções de voto dos brasileiros.
Ciro Gomes, que encabeça o Partido Democrático Trabalhista (PDT), surge em terceiro com 11%, seguido de Geraldo Alckmin, que caiu de 9% para 8%, enquanto a ambientalista Marina Silva continua com 4% das intenções de voto.
A primeira volta das eleições presidenciais do Brasil acontece este domingo e, caso nenhum candidato atinja a marca de 50% dos votos válidos, haverá uma segunda volta com os dois primeiros colocados, que está marcada para o dia 28 do mesmo mês.
C/ LUSA