Quatro corporações de bombeiros da província sul-africana de Gauteng continuam a combater, pelo segundo dia, o incêndio que já destruiu sete andares de um prédio icónico na baixa de Joanesburgo, antiga sede do Banco de Lisboa.
O incêndio, que foi dado como extinto pelas autoridades locais ao final do dia de quarta-feira, quase oito horas depois e após a morte de três bombeiros, reacendeu esta manhã, obrigando ao reforço de meios de combate, enviados de várias partes da província envolvente à cidade de Joanesburgo, com seis milhões de habitantes.
No local encontram-se as corporações de bombeiros de Pretória, norte da província, Ekhuruleni, leste de Joanesburgo, e ainda uma pequena unidade de combate a incêndios do aeroporto internacional OR Tambo, a 70 quilómetros do centro da cidade.
Um oficial das Forças Armadas da África do Sul (SADF) e mais três unidades privadas de combate a incêndios foram igualmente vistos pela Lusa no local.
A porta-voz dos serviços de emergência da autarquia, Nana Radebe, disse hoje à imprensa que o fogo propagou-se rapidamente nas primeiras horas do primeiro dia, do 23.º para 16.º andar do edifício, e que os bombeiros foram forçados a sair do prédio por falta de "pressão de água nas mangueiras".
Segundo as autoridades, o incêndio provocou ainda 13 feridos graves e obrigou à retirada de 1.015 funcionários públicos.
Oito bombeiros encontram-se ainda hospitalizados, dois em estado crítico, avançaram hoje as autoridades.
Testemunhas disseram que o incêndio ocorreu no último andar, por volta das 10:30 (menos uma hora em Lisboa) de quarta-feira.
O icónico edifício de 23 andares na Sauer Street, no centro da cidade, é conhecido por prédio "Bank of Lisbon", por ali ter funcionado a sede do português Banco de Lisboa, hoje Mercantile Bank, do grupo Caixa Geral de Depósitos.
O prédio encontrava-se já algum tempo degradado, mas albergava três serviços do governo provincial.
O governador de Gauteng e político do Congresso Nacional Africano (ANC), David Makhura, admitiu que o edifício não cumpria os padrões de saúde e segurança ocupacional.
"O mais recente relatório dava conta de vários prédios, incluindo este onde deflagrou o incêndio de hoje [quarta-feira] e onde estava alojado o ministério da Saúde", precisou o governante do ANC.
Por seu lado, o presidente da Câmara Municipal de Jonesburgo, Heman Mashaba, político da Aliança Democrática (DA), maior partido na oposição, há dois anos no cargo, apelou ao governo (provincial e nacional) a agir em prol dos residentes da cidade, "independentemente de os prédios serem do Estado ou do setor privado".
"É um desafio monumental porque há mais de 500 prédios na cidade de Joanesburgo que não cumprem os padrões de segurança e saúde pública, e infelizmente parte das responsabilidades processuais e judiciais não competem à autarquia. Posso dizer-lhe que o Ministério Público tem em mãos mandatos de prisão emitidos há mais de um ano e nada fez", declarou o autarca.
"É importante que o governo provincial assista a autarquia a facilitar a celeridade do sistema que nos impede de trabalhar", disse hoje aos jornalistas no local Herman Mashaba.
Vários prédios públicos na cidade de Joanesburgo foram ocupados ilegalmente após as primeiras eleições multirraciais e democráticas em 1994, sendo visível a falta de habitabilidade, manutenção e serviços públicos pelo seu estado de degradação e abandono.
A autarquia dispõe alegadamente de apenas 14 viaturas de combate a incêndios, segundo um relatório citado pela imprensa sul-africana. As autoridades não confirmam nem desmentem.
A Associação dos Funcionários Públicos (PSA, na sigla em inglês) disse ter advertido "por diversas vezes" o governo provincial de Gauteng afirmando que "nenhum dos prédios do governo atende aos regulamentos de saúde e segurança ocupacional".
A PSA diz que advertiu especificamente as autoridades provinciais que o prédio do Banco de Lisboa, sede da Saúde Gauteng, "era um ambiente perigoso".
"O GPG (Governo Provincial de Gauteng) não levou a sério os avisos, resultando na tragédia de hoje [quarta-feira]. O PSA culpa diretamente o GPG [governo provincial de Gauteng], pois ignorou os avisos e negligenciou a manutenção dos edifícios governamentais até se chegar a um estágio de total dilapidação", afirmou, em comunicado, o presidente em exercício da PSA, Tahir Maepa.
LUSA