“Face à não homologação do Processo Especial de Revitalização (PER), à quebra significativa de receitas provocada pela despromoção administrativa [da II Liga] e perante a inexistência de soluções extrajudiciais que assegurassem o equilíbrio entre a viabilidade económica e os compromissos herdados, a Boavista SAD foi conduzida à única via legal que permite a sua reestruturação integral: a declaração de insolvência com vista à recuperação”, explicou a sociedade liderada pelo senegalês Fary Faye, em comunicado.
Despromovido à II Liga em maio, após fechar a edição 2024/25 da I Liga no 18.º e último lugar, com 24 pontos, fechando um trajeto de 11 épocas no escalão principal, o Boavista falhou a inscrição nas provas da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP) em 30 de junho, por causa do incumprimento de pressupostos financeiros exigidos pelo organismo.
“Esta opção, já formalizada junto do Tribunal de Comércio de Vila Nova de Gaia, representa uma decisão ponderada e estratégica, que foi tomada após ficarem esgotadas todas as alternativas realistas ao dispor da administração, que tudo fez, com rigor e transparência, para evitar este desfecho”, vincou, encarando uma “conjuntura económico-financeira de extrema complexidade” na gestão do futebol profissional das ‘panteras’.
O Boavista foi, para já, relegado pela via administrativa à Liga 3, tutelada pela Federação Portuguesa de Futebol (FPF), cuja Comissão de Licenciamento concedeu um prazo, que termina hoje, para que a SAD ‘axadrezada’ apresente certidões de não dívida à Autoridade Tributária e à Segurança Social, sob pena de descer aos escalões distritais portuenses.
“O licenciamento para a Liga 3 permanece igualmente em risco, devido ao volume de exigências por parte dos credores públicos, cujo impacto é, neste momento, insustentável para a sociedade, não obstante o facto de terem sido liquidados ao Estado, desde junho de 2024, montantes de quase cinco milhões de euros (ME). Ainda assim, a administração mantém-se com esperança e empenhada contra todas as adversidades”, reconheceu.
Empossada em maio de 2024, a direção liderada por Fary Faye assegura ter “cumprido integralmente com as suas obrigações fiscais e com a maioria dos compromissos financeiros correntes, sem agravar o passivo da SAD”, que tem 10% do capital social na posse do clube e é detida maioritariamente pelo investidor hispano-luxemburguês Gérard Lopez.
“Contudo, os constrangimentos acumulados entre 2019 e 2023 – nomeadamente o crescimento da dívida fiscal, a existência de centenas de execuções e ações judiciais pendentes, sucessivos incumprimentos em acordos pretéritos e um passivo herdado – inviabilizaram qualquer solução extrajudicial equilibrada e financeiramente comportável para a realidade atual da sociedade”, admitiu, aludindo à gestão do antecessor Vítor Murta.
Apesar da incerteza quanto ao escalão em que poderá competir na próxima temporada, o Boavista iniciou hoje os trabalhos de pré-época com exames médicos no Estádio do Bessa, no Porto, divulgando oportunamente a constituição do plantel e da equipa técnica.
“A administração da Boavista SAD e o seu acionista maioritário reafirmam, em uníssono, o compromisso inequívoco com a recuperação plena da sociedade, independentemente da divisão onde venha a competir, e assumem a responsabilidade de liderar uma nova etapa de reestruturação, com rigor, transparência e ambição, garantindo as condições para um futuro sólido, sustentável e compatível com a história centenária do Boavista”, terminou.
Na terça-feira, o Tribunal do Comércio de Vila Nova de Gaia declarou a insolvência do clube ‘axadrezado’, presidido por Rui Garrido Pereira, cinco horas depois de ter sido concluído o leilão dos terrenos adjacentes ao Estádio do Bessa, cuja oferta mais alta foi de 5,55 ME.
Lusa