"O bastonário está completamente equivocado, a Região Autónoma da Madeira já tem os horários das 35 horas a funcionar há mais de quatro anos e não houve, nem está a haver, problemas neste momento. É uma questão de gestão, organização e de planificação dos recursos", disse, ao comentar declarações de Miguel Guimarães, alertando para os riscos no Algarve, Alentejo, Trás-os-Montes e Madeira da redução da carga horária.
A Ordem dos Médicos alertou que a passagem do horário dos profissionais de saúde para 35 horas semanais sem novas contratações reduz a capacidade de resposta do Serviço Nacional de Saúde, principalmente nas regiões mais carenciadas e periférica, que já são "as mais debilitadas" em termos de carência de profissionais.
Para o bastonário, zonas como Beja, Évora, Algarve são "uma ‘panela de vulcão’" devido ao aumento da população no verão, quando tem mais de um milhão de pessoas nas férias. Vila Real, Bragança e Madeira são outros exemplos de preocupação quanto aos "diversos problemas" que poderão ter de enfrentar.
Pedro Ramos salienta que, no que diz respeito aos enfermeiros, a situação na Madeira "é um exemplo para todo o país".
"Já temos horários de 35 horas; já temos a atribuição dos três dias de férias; vamos, imediatamente, após a discussão do Orçamento Retificativo, introduzir e atribuir o suplemento para os especialistas e já temos a remuneração mínima para os enfermeiros, uma situação que contrasta, completamente, com a situação no país", acrescentou.
"O bastonário não sabe o que se passa em termos de horários de trabalho na Região Autónoma da Madeira e também não sabe o que se passa no real", concluiu.
Pedro Ramos diz ainda ser necessário haver "maior transparência na atribuição de vagas para as várias unidades do país".
O bastonário diz que as consequências desta mudança dos horários de trabalho são "ainda imprevisíveis", mas alerta para a possibilidade dos hospitais e centros de saúde viverem "uma situação mais ou menos caótica, uma vez que o período de férias está a iniciar-se, e há menos pessoas a trabalhar, e a "capacidade de resposta dos serviços é reduzida".
"É uma situação que pode e vai reduzir a capacidade de resposta do Serviço Nacional da Saúde", numa altura em que há "imensas dificuldades", com as listas de espera para cirurgia a aumentar de ano para ano, bem como o tempo de espera para a primeira consulta de especialidade hospitalar, disse Miguel Guimarães.
As consequências prováveis são o fecho de salas de bloco operatórios, implicações nos tratamentos e nas consultas externas, além de alguns serviços terem de "encerrar camas de internamento por não terem, por exemplo, os enfermeiros necessários para assegurar os cuidados de saúde a doentes internados", disse o bastonário à agência Lusa.
Na base do problema, criticou, está o facto de o Governo não ter acautelado a situação, com "um plano adequado" para a contratação atempada dos profissionais necessários para cobrir as necessidades decorrentes desta mudança que envolve milhares de profissionais.
O bastonário assume que falou com diretores de hospitais que se manifestaram "extremamente apreensivos" com o que pode acontecer. "Todos eles têm algum sentimento de revolta por que acham que isto é uma questão de má gestão política, seja o ministério da Saúde, seja o Ministério das Finanças".
LUSA