Uma cerimónia reuniu sobreviventes, familiares e amigos das vítimas, residentes e londrinos de várias partes da cidade que quiserem mostrar respeito, envergando a cor que passou a estar associada com a campanha de sensibilização sobre o que sucedeu há um ano.
Após uma missa na igreja próxima de Santa Helena, onde foram acesas velas e à porta da qual foram largadas 72 pombas, as pessoas concentraram-se junto à vedação de madeira que foi erigida em redor do que resta do edifício.
Este local tornou-se num mural, onde têm sido deixados ramos de flores, fotografias, velas ou mensagens escritas a caneta junto a um coração que reproduz as cores e estilo do logótipo do metro londrino, mas que no centro tem a palavra "Grenfell".
Ouviu-se música, incluindo "Lean on Me", de Bill Withers, foi recitado um excerto do Corão e lidos os nomes de todas as vítimas e inaugurado um mosaico com corações.
Foi então cumprido um minuto de silêncio, observado a nível nacional, incluindo pela rainha Isabel II durante um evento oficial, para o qual se vestiu de verde, e pela seleção de futebol, que está na Rússia para participar no Mundial2018 de futebol.
Envergando cachecóis verdes, as amigas Zaila e Gisela disseram à agência Lusa que a atmosfera foi "intensa, triste, mas cheia de um espírito de comunidade".
A presença, afirmaram, deveu-se ao desejo de mostrar solidariedade, tal como David, um residente local de 36 anos, de cuja janela consegue ver a Torre Grenfell.
"Era para ter ido trabalhar, mas não conseguia, tinha de estar aqui", confessou, emocionado, o londrino que envergava uma ‘t-shirt’ onde se lia Grenfell no centro de um coração.
A tragédia de há um ano, garante, "teve um grande impacto no bairro", onde hoje era possível ver cartazes, flores ou bonecos dedicados às vítimas presos aos gradeamentos, enquanto outros cartazes apelam à "justiça".
O minuto de silêncio foi decretado a nível nacional e cumprido em locais públicos, como o parlamento britânico, escolas ou quartéis de bombeiros.
O aniversário começou por ser comemorado esta madrugada, quando a torre, coberta por uma lona e que no topo tem uma faixa onde se lê "Forever in Our Hearts’ [Para sempre nos nossos corações], foi iluminada de verde.
Outros edifícios e monumentos da cidade foram também iluminados de verde, como o London Eye e o Downing Street, residência oficial da primeira-ministra britânica.
O incêndio na Torre Grenfell começou cerca da meia-noite de 14 de junho de 2017 num frigorífico no quarto andar, mas alastrou rapidamente aos andares superiores da torre de 25 pisos, alegadamente devido ao revestimento inflamável.
Inicialmente, os bombeiros aconselharam as pessoas a não deixarem os seus apartamentos, o que acabou por ser fatal para muitos que residiam nos pisos superiores e que não conseguiram escapar.
Ao todo, morreram 70 pessoas no incêndio, mais uma vítima que sucumbiu dos ferimentos dias depois no hospital e um bebé nado morto, filho dos portugueses Márcio e Andreia Gomes.
Logan Gomes, que já tinha quase sete meses de gestação, morreu devido à intoxicação com fumo da mãe, que foi hospitalizada juntamente com uma das duas filhas após uma fuga dramática pelas escadas desde o 21.º andar.
Além do casal Márcio e Andreia Gomes e as duas filhas menores, viviam na Torre Grenfell outros seis portugueses, todos no 14.º andar: Miguel e Fátima Alves e dois filhos, e outros dois amigos portugueses, residentes no mesmo andar mas num apartamento vizinho, que também sobreviveram.
O mais mortífero incêndio doméstico desde a Segunda Guerra Mundial no Reino Unido está a ser alvo de um inquérito público liderado pelo juiz aposentado Martin Moore-Bick com o objetivo identificar as causas para assim evitar futuras tragédias.
Além de perceber porque é que as chamas se espalharam tão rapidamente, vão ser analisadas a atuação dos serviços de emergência e das autoridades locais e as regulamentações em vigor para a construção.
LUSA