Depois de intervir no Fórum Económico Mundial em Davos, Suíça, António Guterres, numa sessão de perguntas e respostas com o presidente do fórum, Borge Brende, ao ser questionado sobre a deterioração da situação de segurança na Cisjordânia, apesar do acordo de cessar-fogo atualmente em vigor, afirmou-se convicto de que Israel “está fundamentalmente interessada” neste território, mais do que na Faixa de Gaza, e pode ter a tentação de proceder a uma anexação, que seria “uma completa violação da lei internacional”, com graves consequências.
De acordo com Guterres, “há uma situação em que todos ganham: o cessar-fogo mantém-se, os reféns continuam a ser libertados e tem lugar uma distribuição massiva de ajuda”.
“Agora esperamos que as próximas fases [do acordo entre Israel e o Hamas] levem a uma situação de cessar-fogo permanente em Gaza, em que possa ser estabelecido um processo de transição em Gaza que permita a reunificação dos territórios palestinianos ocupados e abra caminho a negociações sérias com vista a uma solução política baseada na solução de dois Estados. Esta é a situação em que todos ficariam a ganhar”, disse.
O secretário-geral das Nações Unidas advertiu então que há, no entanto, “outra possibilidade, e a outra possibilidade é que Israel, sentindo-se entusiasmada pelos sucessos militares que tem tido, pense que esta é a altura de proceder à anexação da Cisjordânia e manter Gaza numa situação de espécie de limbo com uma forma de governação pouco clara”.
“É claro para mim que Israel não está fundamentalmente interessada em Gaza, está fundamentalmente interessada na Cisjordânia. Ora, isso seria uma violação total da lei internacional e criaria uma situação em que os acordos de Abraão [de 2020] ficariam completamente minados e significaria que nunca teríamos um paz realmente estável no Médio Oriente”, advertiu.
Na terça-feira, o exército israelita procedeu a uma operação militar de grande envergadura no campo de refugiados de Jenin, no norte da Cisjordânia ocupada, durante a qual morreram 10 palestinianos, isto depois de, no dia anterior, dezenas de colonos terem estado envolvidos em ataques a duas cidades da Cisjordânia, nos quais mais de 20 palestinianos ficaram feridos.
A Cisjordânia ocupada tem estado a viver a maior espiral de violência desde a Segunda Intifada (2000-2005), e pelo menos 491 palestinianos foram mortos por fogo israelita no território em 2024, na maioria milicianos dos campos de refugiados, mas também civis, incluindo 75 menores.
Lusa