“Desde investigação de tecnologia, equipamentos, inclusive até do ponto de vista da indústria têxtil, até armas e munições, nós devemos aproveitar o nosso potencial”, afirmou o chefe de Governo, em declarações aos jornalistas portugueses em Budapeste, no final de uma reunião informal do Conselho Europeu na qual se debateu a autonomia estratégica para a UE ser mais competitiva.
“Eu sei que não estamos habituados em Portugal a falar disto com esta clareza, mas se não se produzirem armas e munições em Portugal, por exemplo, vão-se produzir noutro país da Europa e nós vamos pagar a aquisição, quer no âmbito da UE, quer no âmbito da NATO [Organização do Tratado do Atlântico Norte], dessas armas e dessas munições”, acrescentou Luís Montenegro.
Ainda assim, ressalvou: “Eu não estou com isto a fazer agora um apelo belicista, de que o Estado português agora quer estar em guerra, não”.
Luís Montenegro disse estar a referir-se à “política de dissuasão da violência” e a “uma pedagogia que não é pedagogia da guerra, é pedagogia da paz, é pedagogia da dissuasão”.
“Se nós na Europa ficarmos alheios a este movimento, para nos sentirmos seguros vamos precisar de recorrer a alguém que externamente nos garanta essa segurança”, exemplificou.
Reunidos na capital húngara pela presidência rotativa do Conselho da UE assumida pela Hungria, os chefes de Governo e de Estado da União – incluindo Luís Montenegro – aprovaram hoje a Declaração de Budapeste, na qual se defendem “investimentos significativos, mobilizando financiamentos públicos e privados”, nomeadamente no setor de Defesa.
Impulsionada pela guerra da Ucrânia causada pela invasão russa e pelas recentes tensões geopolíticas, a prioridade europeia relativa à Defesa vai ter de ser suportada por necessidades de investimento na ordem dos 500 mil milhões de euros na próxima década, segundo recentes cálculos.
“Nós vamos ter que aumentar o investimento e é, creio eu, oportuno que nós possamos aumentar o investimento de defesa […] para alavancar mais empregos […] e é isso que eu quero no fundo sinalizar até aos empresários portugueses, para que olhem para as oportunidades que a área da defesa está a abrir”, exortou Luís Montenegro.
O chefe de Governo propôs ainda que as empresas portuguesas possam “reinvestir uma parte da sua capacidade produtiva e, eventualmente, até reestruturar alguns dos negócios” no âmbito desta “estratégia supranacional” da UE, em parceria com a NATO.
“Eu queria que a indústria portuguesa – o know-how tecnológico, o know-how produtivo –, pudesse estar sensibilizado”, adiantou.
Na Declaração de Budapeste sobre o novo pacto para a competitividade europeia, os chefes de Governo e de Estado da UE comprometem-se a “aumentar a prontidão e as capacidades em matéria de defesa, nomeadamente reforçando em conformidade a base tecnológica e industrial de defesa”.
“A este respeito, o Alto Representante e a Comissão apresentarão, sem demora, opções desenvolvidas de financiamento público e privado”, instam ainda.
Lusa