O Chefe de Estado-Maior da Armada (CEMA) explicou que a um militar em funções apenas lhe restam duas hipóteses quando confrontado com questões dessa natureza: “Ou não responde ou tem que dizer ‘’não’”, disse Gouveia e Melo, para depois acabar por afirmar: “Não quero dizer que não”.
“Um militar, depois de terminar o serviço ativo, é um cidadão normal”, sublinhou o CEMA.
O almirante estará em funções até ao próximo dia 27 de dezembro, e afirmou igualmente que ainda não se decidiu se prolongará as funções no cargo, caso venha a ser convidado a isso pelo atual Governo. “Isso é coisa que não tenho ainda resolvida na minha cabeça”.
Não obstante, em resposta à insistência do jornalista Vítor Gonçalves sobre o que responderia se fosse desafiado a continuar, Gouveia e Melo acabou por deixar no ar a ideia de que se sente tentado a dar o lugar a outro, explicando que “há um conjunto de pessoas” que esteve com ele, que “também merecem as suas oportunidades”.
Já sobre a hipótese de vir a concorrer a Belém, Gouveia e Melo foi menos taxativo. O almirante repetiu que soma 45 anos de serviço militar, que prometeu a si mesmo “dar a vida pelo país” e que os seus “planos” vão no sentido de “continuar a contribuir para o país”.
Confrontado com a circunstância de o seu nome aparecer bem colocado nas sondagens de intenção de voto, Gouveia e Melo começou por ironizar, sugerindo que, se isso preocupa alguém, basta que o seu nome seja retirado dos estudos de opinião.
“Agradeço muito o relevo que me dão nas sondagens e, se alguém ficar preocupado, é só não porem o meu nome nas sondagens”, disse.
Gouveia e Melo adquiriu particular notoriedade pelas funções que desempenhou no programa nacional de combate à epidemia de covid-19. Confrontado por Vítor Gonçalves sobre o que lhe dizem hoje as pessoas em relação às presidenciais, Gouveia e Melo não fugiu à questão, admitindo ser este agora o tema que as leva e dirigiram-se a ele.
“As pessoas têm muito carinho por mim e manifestam-me muitas vezes esse carinho”, começou por afirmar, para a seguir acrescentar que lhe dizem: “Concorra, concorra! Tem o meu voto!”.
“As minhas motivações têm que ver com o que entendo que posso fazer”, acrescentou, para em seguida concluir: “sou uma pessoa determinada e quando quero uma coisa luto por essa coisa”.
Confrontado com ainda com análises segundo as quais a eleição de um militar para a Presidência da República constituiria um “retrocesso” no processo democrático do país, Gouveia e Melo afirmou que não entende essa circunstância como “nenhum retrocesso nem nenhum avanço”, recordando o papel desempenhado em favor da democracia pelo último presidente militar desde o 25 de Abril, o general Ramalho Eanes, descrevendo-o como um “indivíduo extraordinário”, principal protagonista do “tempo da transição para a democracia e do regresso dos militares aos quartéis”.
“A população tem que estar muito agradecida a esse senhor”, acrescentou.
Finalmente, o almirante Chefe de Estado-Maior da Armada admitiu que o atual contexto internacional, com uma guerra na Europa e a situação política nos Estados Unidos, poderia ser favorável, “influenciando a perceção das pessoas”, à eleições de um antigo militar para Belém, porém, modalizou essa “avaliação” caberia ao eleitorado, que esse candidato teria que convencer nesse sentido.
Lusa