Em declarações à agência Lusa, Miguel Jerónimo, coordenador de alguns projetos de reflorestação do GEOTA (Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente), começou por lamentar o “gigantesco passivo ambiental” que se perdeu na sequência do incêndio que deflagrou na ilha da Madeira em 14 de agosto.
Dados do Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais apontam para 5.104 hectares de área ardida.
“Já vimos na comunicação social que, pelo facto de não terem sido perdidas vidas humanas e não terem ardido casas e habitações, que isto é um sucesso. Arderam cinco mil hectares. É um passivo ambiental gigantesco e não pode ser visto como um sucesso”, sublinhou.
Para o ambientalista o caminho passa agora pela adoção de medidas imediatas e de médio longo prazo, sendo as mais urgentes a criação de uma comissão técnica independente para avaliar as causas e as falhas operacionais e o desenvolvimento de um plano para a estabilização dos solos, a ocorrer antes das primeiras chuvas.
“Onde existia florestação, neste momento, não há. Portanto, o que segurava o solo era a vegetação. Toda a gente sabe que na ilha da Madeira estamos a falar de declives muito acentuados. Quando chegarem as primeiras chuvas, o que vai acontecer são fenómenos semelhantes àqueles que assistimos em 2022 na Serra da Estrela. Logo após aquele incêndio houve chuvas torrenciais, inundações, contaminação das linhas de água com cinzas e o arrastar de material ardido”, descreveu.
Outras medidas defendidas por Miguel Jerónimo, para o médio/longo prazo, são a potenciação e a regeneração natural da floresta Laurissilva e a reconversão da floresta não nativa da ilha, composta essencialmente por pinheiros, eucaliptos e acácias.
“Nós precisamos de uma paisagem que esteja mais adaptada àquilo que podem ser estes perigos de incêndio e, portanto, que possa mitigar e servir como aliado na redução do risco de incêndio”, apontou.
Segundo explicou o ambientalista do GEOTA, que coordena projetos de reflorestação na Serra da Estrela, no pinhal de Leira e na serra algarvia de Monchique, a ilha da Madeira “dispõe de todas as condições naturais para que o processo de reflorestação “seja um sucesso”.
Como nota final, Miguel Jerónimo desafiou o Governo Regional a integrar o Plano Nacional de Gestão Integrada de Fogos Rurais, considerando que tal iria contribuir para melhorar a capacidade operacional e a prevenção de fogos desta dimensão.
“Era muito importante que o Governo Regional e os partidos da oposição olhassem de uma forma positiva a integração neste tipo de processos e não uma ingerência naquilo que é a autonomia da região. Acho que isso era um contributo positivo”, atestou.
O incêndio rural na ilha da Madeira deflagrou em 14 de agosto nas serras do município da Ribeira Brava, propagando-se progressivamente aos concelhos de Câmara de Lobos, Ponta do Sol e Santana.
Na terça-feira, ao fim de 13 dias, a proteção civil regional indicou que o fogo estava “totalmente extinto”.
Dados do Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais apontam para 5.104 hectares de área ardida.
Durante os dias em que o fogo lavrou, as autoridades deram indicação a perto de 200 pessoas para saírem das suas habitações por precaução e disponibilizaram equipamentos públicos de acolhimento, mas muitos moradores foram regressando a casa.
O combate às chamas foi dificultado pelo vento e pelas temperaturas elevadas, mas, segundo o Governo Regional, não há registo de feridos ou da destruição de casas e infraestruturas públicas essenciais, embora algumas pequenas produções agrícolas tenham sido atingidas, além de áreas florestais.
A Polícia Judiciária está a investigar as causas do incêndio, mas o presidente do executivo madeirense, Miguel Albuquerque, disse tratar-se de fogo posto.
Lusa