"A situação não se coloca, porque é um concelho com muita água, nascentes e poços de rega. Toda a gente tem água, é uma situação transversal e há agua sempre a correr na ribeira", disse à Lusa o presidente da Câmara Municipal de São Vicente, na costa norte da ilha da Madeira, José António Garcês.
No concelho vizinho, o Porto Moniz, o presidente, Emanuel Câmara, afirmou que "a falta de alguma água existe", o que foi minimizado com investimentos na captação e distribuição deste recurso a partir das nascentes. Por isso, defendeu ser necessário "refletir" sobre a falta de aproveitamento dos milhares de metros cúbicos que "dia e noite vão parar ao mar e são desperdiçados".
"Os agricultores em Santana também têm sentido este problema e no verão os giros foram mais espaçados", observou o presidente desta câmara na costa norte, Teófilo Cunha, sublinhando que, apesar de ter começado a chover, "as reservas para o próximo ano não estão repostas".
Na zona oeste, o presidente do município da Calheta, Carlos Teles, referiu que a distribuição da água no concelho é gerida pela Água e Resíduos da Madeira (ARM) — a empresa intermunicipal que também tem a gestão nos concelhos Câmara de Lobos, Santana, Machico e Santa Cruz — e vincou que "não chegaram quaisquer reclamações à câmara" no que toca a problemas com a distribuição da água para a agricultura.
No município de Câmara de Lobos, porém, nos meses de verão, algumas pessoas que "não têm reservatórios" sentiram algumas dificuldades, com o aumento da duração dos giros (período entre regas), disse fonte da autarquia.
Em matéria de água, ainda na zona oeste da Madeira, o concelho da Ponta do Sol — "rico em água", segundo a presidente da Câmara, Célia Pessegueiro – apresenta algumas particularidades.
Na sua história tem a denominada Revolta da Água, um movimento registado em 1962, quando os agricultores se recusaram a entregar a gestão das águas às autoridades. Foi então constituída no sítio da Lombada uma Associação de Regantes, que se mantém até hoje.
Também na freguesia dos Canhas são os populares que gerem a água da Levada das Cruzes, uma situação que Célia Pessegueiro entende que tem de ser "disciplinada".
A autarca sublinhou que acontecem também problemas de diferenças de pressão na distribuição da água potável e que se verifica "um regresso à agricultura", estando muitos dos canais danificados devido ao "abandono dos terrenos ao longo dos anos", o que obriga a fazer investimentos e originou a necessidade de giros mais prolongados.
Quanto aos agricultores com capacidade industrial nesta localidade, têm "optado por sistemas de rega com expansores".
No município de Santa Cruz, na parte sul da ilha, a presidência defende a necessidade de investimentos na substituição das redes de distribuição e o seu redimensionamento, como no caso da freguesia do Caniço, que, "devido ao aumento da densidade populacional, não tem capacidade de responder às necessidades dos residentes".
Para o efeito, a autarquia "apresentou uma candidatura a fundos comunitários e pretende fazer um investimento na ordem dos dois milhões de euros", registando ainda "carências em dois sítios a nível de reservatórios intermédios".
"A Câmara Municipal também decidiu canalizar água das ribeiras e nascentes para a rega dos jardins e criou dois reservatórios de água que abastecem os jardins públicos", disse fonte da presidência.
Em Machico, concelho vizinho, o presidente do município, Ricardo Franco, assegurou que "não há falta de água potável", mas admitiu que existem "problemas devido à falta de chuva, o que afeta as culturas e os terrenos agrícolas".
Uma das medidas que o município adotou foi deixar de "usar água nos chafarizes, existindo algum controlo, só tendo água em situações festivas e datas assinaláveis".
A Câmara do Funchal decidiu instalar no próximo ano, pela primeira vez na história da autarquia, contadores de água em vários fontanários, fontes e espaços verdes, para controlar e poupar água.
Segundo o vereador das Águas e Saneamento Básico, Miguel Silva Gouveia, o relevo do concelho — com clientes desde a cota dos quase 700 metros até à baixa da cidade – provoca oscilações na pressão da água distribuída que causam ruturas.
"O Funchal, historicamente, tem perdas muito elevadas", mencionou o responsável, apontando que no ano 2000 eram na ordem dos 65%, tendo vindo a ser reduzidas "paulatinamente para os 60%" – "são perdas comerciais, de roubos e técnicas devido a ruturas".
A Lusa contactou também a Câmara do Porto Santo, que recusou responder às questões, alegando que a gestão da água era da responsabilidade da ARM.
LUSA