Entre 01 de janeiro e 15 de março, chegaram 12.393 migrantes às Canárias (arquipélago no Atlântico) a bordo de 190 embarcações precárias (conhecidas em Espanha como “pateras”), face a 2.178 pessoas no mesmo período de 2023.
Já às costas espanholas do Mediterrâneo (Espanha continental e ilhas Baleares), chegaram, no mesmo período, 2.011 migrantes, mais 54% do que em 2023.
O ministro da Administração Interna, Fernando Grande-Marlaska, disse hoje numa audição do Senado espanhol que, apesar destes números, “suavizou-se” a chegada de embarcações e migrantes às Canárias nas primeiras semanas de março.
Segundo um balanço anterior, feito há um mês, as chegadas de migrantes de forma irregular às Canárias entre 01 de janeiro e 15 de fevereiro (11.700 pessoas) tinham aumentado 630% em relação a 2023.
O ministro sublinhou que, nos últimos meses, foram reforçados meios de resposta nas Canárias e intensificadas as medidas de cooperação com a Mauritânia, de onde saem mais de 80% das “pateras” que chegam às costas e águas das Canárias.
Espanha está a lidar com um pico inédito de chegadas de migrantes, de forma irregular, às Canárias, sobretudo, desde meados do ano passado.
O Governo espanhol atribui, sobretudo, à instabilidade na região do Sahel o aumento de chegadas de migrantes.
No mês passado, a Agência Europeia da Guarda de Fronteiras e Costeira (Frontex) revelou que quase todas as rotas migratórias para a União Europeia (UE) registaram uma descida em janeiro, que variou entre recuos de 71% no Mediterrâneo Central e de 30% nos Balcãs Ocidentais, mas a rota da África Ocidental contrariou a tendência de descida.
A agência europeia explicou que, “nos últimos meses, os grupos criminosos envolvidos no tráfico de seres humanos na Mauritânia aproveitaram rapidamente as oportunidades oferecidas pelo aumento da procura por parte dos migrantes subsarianos que transitam pelo seu país para entrar na União Europeia através das ilhas Canárias”, onde chegam em pequenas embarcações de pesca normalmente sobrelotadas.
Em 08 de fevereiro, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, foram à Mauritânia, onde anunciaram ajudas de centenas de milhões de euros ao país africano, para gestão de fluxos migratórios e apoio a refugiados, entre outros objetivos.
A presidente da Comissão lembrou a “situação muito precária” que vive a região do Sahel, com golpes de Estado e violência nos países vizinhos da Mauritânia, que assume “um papel primordial” na garantia da estabilidade nesta zona.
A Mauritânia, sublinhou, além de ser um país de origem de fluxos migratórios para a Europa, está também a acolher centenas de milhares de pessoas de outros Estados próximos, como o Mali, que fogem da violência.
Espanha é um dos países da UE que lida diretamente com maior número de chegadas de migrantes em situação irregular que pretendem entrar em território europeu.
A par dos números oficiais com as chegadas de migrantes a território espanhol, as organizações não-governamentais (ONG) chamam a atenção para o número de mortos.
Segundo a ONG Caminhando Fronteiras, 6.618 pessoas morreram no ano passado no mar quando tentavam chegar a Espanha, quase o triplo das vítimas de 2022 e o maior número desde que há registos (2007). Mais de 6.000 (6.007) dessas pessoas morreram na “rota das Canárias”, que voltou a ser “a região migratória mais letal do mundo”.
Além da situação no Sahel, as ONG atribuem o aumento do número de chegadas a Espanha e de mortos no mar aos acordos do Governo de Madrid com Marrocos, para controlo das fronteiras, que levam os migrantes para as rotas mais longas e perigosas do Atlântico.
Lusa