O estudo "Flash! PPE na Europa", apresentado hoje conferência internacional sobre investigação em VIH/sida, que decorre em Paris, visou avaliar o conhecimento, o interesse e a utilização na Europa deste tratamento numa população alvo, como homens que fazem sexo com homens e transsexuais.
Realizado pelas organizações não-governamentais AIDES e Coalition PLUS, em parceria com a Universidade de Amesterdão e 15 associações europeias envolvidas na luta contra o VIH/sida, o estudo foi realizado simultaneamente em 12 países, entre os quais Portugal, entre 15 de junho e 15 de julho de 2016, e envolveu 16 mil pessoas.
"Este estudo revela um verdadeiro problema de informação sobre a Profilaxia Pós-Exposição entre aqueles estão mais expostos, mas também mostra que, quando as pessoas conhecem esta nova ferramenta e têm informação de qualidade, dizem que estão interessadas em usá-la", disse a presidente da AIDES, Aurélien Beaucamp, na conferência.
A investigação revelou que apenas 55% dos entrevistados com comportamentos de risco conhecem este tratamento que visa evitar que o VIH entre no sistema imunitário da pessoa, se instale e reproduza.
Perante estes dados, o estudo defende que "é urgente aumentar esse nível de informação", uma vez que que, entre as pessoas que que conhecem o tratamento, 73% mostraram interesse em usá-lo.
Devido ao acesso autorizado a este tratamento ser limitado na Europa, algumas dessas pessoas obtêm-no através da internet, de amigos ou usando prescrições de profilaxia pós-exposição para obter o ‘Truvada’.
Para os autores do estudo, "a aceitação da PPE ainda é muito fraca devido à falta de acesso autorizado a informações de qualidade".
"Apenas 8% daqueles que declararam comportamentos de risco usam ou já utilizaram a Profilaxia Pós-Exposição e metade deste utilizaram-na no âmbito de estudos de pesquisa", sublinham.
O maior estudo europeu nesta área revelou "as principais barreiras", tanto individuais como estruturais, ao acesso a tratamento de prevenção do VIH e defende "o acesso harmonizado ao tratamento na Europa".
As barreiras identificadas a nível individual no estudo incluíram problemas de preço e não comparticipação dos medicamentos, medos relacionados com os efeitos colaterais do tratamento e a necessidade de ir ao hospital para obter os comprimidos.
O estudo defende que "essas barreiras podem ser facilmente ultrapassadas, melhorando a qualidade da informação e alterando os métodos de obtenção dos comprimidos (por exemplo, promovendo a sua prescrição).
No entanto, a principal barreira à aceitação do medicamento é estrutural: "Sem autorização oficial na maioria dos países europeus, sem reembolso no sistema de seguro de saúde e sem cuidados orientados para as necessidades das populações, o acesso ao tratamento permanecerá extremamente complicado".
A PPE está autorizada e disponível nos Estados Unidos desde 2012 e em França desde 2016.
Na Europa, alertam as organizações, só quatro países (Bélgica, Escócia, França e Noruega) autorizaram a utilização deste tratamento, apesar das recomendações internacionais e de os medicamentos pós-infeção terem sido recentemente integrados na lista de medicamentos essenciais da Organização Mundial da Saúde e autorizado pela Agência Europeia do Medicamentos há um ano.
"Se quisermos ter um impacto real sobre a epidemia, a política europeia em matéria de VIH/sida precisa ser rapidamente harmonizada, integrando esta nova ferramenta em todos os lugares", defendeu Aurélien Beaucamp.
LUSA