Ao longo da campanha para as eleições diretas desta sexta-feira e sábado, tanto o ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, como o deputado Pedro Nuno Santos, assumiram que dificilmente o PS repetirá a maioria absoluta de 2022 nas eleições legislativas antecipadas de 10 de março, e a discussão travada centrou-se na questão da governabilidade num cenário em que os socialistas ficam em maioria relativa no parlamento.
José Luís Carneiro procurou apresentar a sua candidatura como a mais moderada e, como tal, a que posiciona o PS com maior capacidade para disputar com o PSD os eleitores do “centro político” nas legislativas antecipadas de 10 de março. Em várias intervenções públicas, considerou que é ele quem está em melhores condições para derrotar o PSD de Luís Montenegro nas próximas eleições.
Nunca excluiu a reedição da “Geringonça” de 2015, mas também nunca colocou essa hipótese como preferencial. O modelo de governabilidade de José Luís Carneiro apresentou linhas em comum com as opções seguidas pelos executivos minoritários de António Guterres (1995/2021) e de José Sócrates (2009/2011), em que o PS governou com base em acordos pontuais tanto à sua direita (viabilizações de orçamentos), como à sua esquerda (entendimentos em políticas sociais).
Já Pedro Nuno Santos afastou a possibilidade de o seu partido viabilizar um Governo minoritário social-democrata – “o PS não será muleta do PSD” – e, por várias vezes, atribuiu a José Luís Carneiro essa intenção. Uma intenção que, alegadamente, visa evitar que o Chega integre uma futura solução de Governo, ou que o país entre numa conjuntura de ingovernabilidade e instabilidade política.
O ex-ministro das Infraestruturas e da Habitação defendeu os resultados dos governos minoritários de António Costa suportados pela “Geringonça”, sobretudo o primeiro entre 2015 e 2019, disse acreditar que a saúde da democracia portuguesa depende de PS e PSD serem alternativas, mas recusou-se a especificar por enquanto o que fará se for eleito líder dos socialistas e vencer com maioria relativa nas legislativas de março.
Em termos de peso político, os principais apoiantes da candidatura de José Luís Carneiro foram o presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, o ministro das Finanças, Fernando Medina, o antigo ministro José António Vieira da Silva, o líder parlamentar, Eurico Brilhante Dias, e figuras “históricas” como Jorge Lacão, José Leitão ou Arons de Carvalho.
Na sua moção de estratégia, o ministro da Administração Interna comprometeu-se com “contas certas” nas finanças e com pactos de legislatura na saúde e na habitação, além da defesa da regionalização.
A candidatura de Pedro Nuno Santos reivindicou ter o apoio da maioria das federações, concelhias e deputados do PS. Recebeu o apoio do presidente do partido, Carlos César, dos ministros do Ambiente (Duarte Cordeiro), Educação (João Costa) e Saúde (Manuel Pizarro), do “histórico” Manuel Alegre e, para surpresa geral, de figuras da chamada “ala direita” dos socialistas, como Francisco Assis, Sérgio Sousa Pinto e Álvaro Beleza.
A sua moção foi coordenada pela ex-ministra e atual deputada Alexandra Leitão e, além de defender um referendo à regionalização e uma revisão constitucional para o aprofundamento das autonomias regionais, prometeu uma linha de concertação entre trabalhadores e empresários e a reposição da totalidade do tempo congelado dos trabalhadores da administração pública – uma medida com particular incidência no caso dos professores.
Nas eleições desta sexta-feira e sábado para o cargo de secretário-geral do PS, recandidata-se o dirigente socialista Daniel Adrião. Já o tinha feito contra António Costa em 2016, 2018 e 2021.
Líder de uma sensibilidade minoritária nos órgãos nacionais do PS, Daniel Adrião afirmou ao longo da campanha interna que José Luís Carneiro e Pedro Nuno Santos representam candidaturas de continuidade e, como tal, tiveram responsabilidades no caminho “de más práticas” que, na sua perspetiva, conduziu à queda de um Governo com maioria absoluta no parlamento.
Daniel Adrião defendeu uma profunda reforma do sistema político para aproximar eleitos e eleitores, revitalizar o sistema democrático e combater as correntes populistas. Ao nível interno, tem criticado a falta de democracia interna no seu partido e bate-se pela generalização de eleições primárias na escolha de candidatos socialistas a cargos de representação política externa, casos, entre outros, de candidatos a deputados e a presidentes de câmara.
Considerou, ainda, essencial que se acabe com a acumulação na mesma pessoa dos cargos de primeiro-ministro e de secretário-geral do PS.
Nesta campanha eleitoral, as ministras Ana Catarina Mendes, Mariana Vieira da Silva, o secretário de Estado António Mendonça Mendes, o deputado Jorge Seguro e o anterior líder António José Seguro, cada um por diferentes motivos, não apoiaram qualquer um dos três candidatos à sucessão de António Costa no cargo de secretário-geral do PS.
António Costa manifestou-se neutro nesta corrida à sua sucessão, mas elogiou as qualidades políticas de dois dos três candidatos: José Luís Carneiro e Pedro Nuno Santos.
Lusa