“Ou reduzimos todos ou não temos hipóteses”, avisou.
Carlos Borrego falava à agência Lusa a propósito da próxima conferência do clima da Organização das Nações Unidas (ONU), COP28, no Dubai, a partir do dia 30 e até 12 de dezembro.
Antigo ministro independente de um dos governos de Cavaco Silva (PSD), Carlos Borrego chefiou a delegação da União Europeia (UE) à Cimeira do Rio, ou Cimeira da Terra, que em 1992 criou o mecanismo que permitiu que a partir daí se realizassem anualmente as cimeiras do clima da ONU, as COP (conferência das partes).
Mais de 30 anos após a até então maior reunião de chefes de Estado e de Governo, 179 países, Carlos Borrego não vaticinou o fim do mundo, mas considerou que a continuar no atual rumo o planeta ficará um local mais difícil.
O antigo ministro salientou que é fundamental gerir o território, para defender a população e a natureza, a urgência de investir na adaptação às alterações climáticas, e acredita que a redução de emissões de gases vai acontecer com a redução da população mundial, que os estudos (a projeção mais recente do Clube de Roma) sugerem para meio do século.
“Não adianta dizer que vamos proteger uma espécie se não tomarmos medidas sobre como gerir o território. Ninguém questiona a construção de uma casa num local onde havia um núcleo de nascimento de uma planta. Ninguém contesta o crescimento da cidade”, disse.
É por isso, justificou, que é importante uma boa gestão do território, que os países nórdicos já fazem muito bem. E que com ela se garanta que a economia beneficia também o ambiente, que se desenhem políticas transversais.
Mas em Portugal, lamentou, não se consegue sequer decidir sobre duas coisas como o TGV ou o aeroporto. “Não sabemos gerir a população, não sabemos gerir o território”, disse, dando o exemplo da má gestão da água, porque o Alqueva há muito devia ter sido ligado às barragens do Algarve.
E depois, preconiza, é preciso que os países do mundo entendam que as decisões da ONU são para implementar, caso contrário “aprovam-nas e depois não fazem nada”. Como são precisos fundos para apoiar as medidas de adaptação e de mitigação, como são precisas metas para um conjunto de anos e politicas para cumprir essas metas no prazo.
Ainda que a redução para metade das emissões de gases com efeito de estufa de um país como Portugal apenas reduza as emissões globais em 0,075%, “não podemos ser cúmplices na destruição da Terra e sabemos que alcançar a sustentabilidade verdadeira e duradoura exige a redução das emissões e enfrentar as desigualdades sociais na Europa e fora dela”.
E acrescenta: Não estamos a “salvar o clima do Planeta”, mas sim a promover a transição climática (mitigação e adaptação) para salvar vidas.
“Se não fizermos nada, não temos hipóteses”, afirma e repete o antigo ministro, referindo depois o anticiclone dos Açores se deslocou para norte devido ao aumento da temperatura atlântica. “Abrimos a porta para entrar cá tudo. Isto vai ser muito complicado”, avisa, numa referencia a tempestades violentas, a ondas nunca vistas.
“Já pensámos em Portugal o que fazer com estes ventos e ondas? Temos de preparar as costas portuguesas mas não estamos preparados”, diz, alertando que as cidades não estão também preparadas para fenómenos extremos, de chuva, vento ou calor.
Para a COP28, preconiza, é preciso que se avance nos processos com ambição, consolidar o fundo por perdas e danos e o roteiro de adaptação. E aproveitar o primeiro “Global Stocktake” (GST), uma medida do Acordo de Paris para avaliar os progressos e aumentar a ambição.
Carlos Borrego deixou também sugestões para Portugal, nos transportes, na transição energética, nos biocombustíveis avançados, na investigação ou na reciclagem. Atribuir um preço ao carbono é essencial para acelerar a transição climática, considerou.
Lusa