Para a organização internacional de defesa dos direitos humanos, os dois lados do conflito armado instalado na região desde sábado passado estão a cometer crimes graves e demonstram desrespeito pela vida humana.
“O Hamas e outros grupos armados palestinianos violaram o direito internacional” ao cometerem “crimes cruéis em Israel, como execuções sumárias em massa, captura de reféns e lançamento de milhares de ‘rockets’ contra Israel de forma indiscriminada”, aponta a Amnistia Internacional (AI), num comunicado hoje divulgado.
Por outro lado, denuncia a organização, o bloqueio instalado por Israel à Faixa de Gaza, com corte de abastecimento de água, eletricidade, alimentos e combustível, “está a agravar a catastrófica crise humanitária naquela região” e “equivale a um castigo coletivo, que é também um crime de guerra”.
A AI refere ainda ter ativado o Laboratório de Provas de Crise da Amnistia Internacional (Crisis Evidence Lab), que analisou vídeos que mostram crimes levados a cabo por cada um dos lados em conflito.
Logo no primeiro dia, imagens mostram combatentes palestinianos “a dispararem deliberadamente contra civis e a fazerem-nos reféns. Num dos incidentes mais flagrantes, no festival Nova Music, pelo menos 260 civis foram mortos, enquanto outros continuam desaparecidos”, sublinha a organização.
Citada no mesmo comunicado, a secretária-geral da Amnistia Internacional, Agnès Callamard, mostra-se alarmada e lembra que “o massacre de civis é um crime de guerra e não pode haver justificação para estes ataques”.
Um outro vídeo que Agnès Callamard classifica como “perturbador” mostra “homens armados a fazer desfilar uma mulher pelo centro de Gaza, como se fosse uma cena de um pesadelo”.
Perante os acontecimentos, a secretária-geral da organização pede que “todos os civis raptados, incluindo crianças, sejam libertados imediatamente” e defende que “estes crimes devem ser analisados” no âmbito da investigação em curso no Tribunal Penal Internacional (TPI).
“O historial bem documentado de crimes de guerra de Israel não desculpa as ações dos grupos armados palestinianos, nem os isenta de cumprir as suas obrigações ao abrigo do direito internacional de respeitar os princípios fundamentais da humanidade e da proteção dos civis”, sublinha.
“Nem a segurança nem a justiça serão alcançadas através de um banho de sangue civil em Gaza e da punição coletiva”, ressalva Agnès Callamard.
O grupo islamita Hamas – considerado um grupo terrorista por Israel, Estados Unidos e União Europeia (UE) – realizou no sábado um ataque surpresa contra o território israelita, sob o nome de operação “Tempestade al-Aqsa”, com o lançamento de milhares de foguetes e a incursão de milicianos armados por terra, mar e ar.
Em resposta ao ataque, Israel tem bombardeado, nos últimos seis dias, várias instalações do Hamas na Faixa de Gaza, numa operação denominada “Espadas de Ferro”.
Segundo dados hoje avançados, o conflito já provocou cerca de 1.300 mortes em Israel e 1.354 na Faixa de Gaza.
A estas vítimas mortais somam-se mais de 3.200 feridos em Israel e mais de 6.000 em Gaza, território controlado pelo Hamas desde 2007.
O Hamas e a Jihad Islâmica afirmam ter cerca de 130 reféns na sua posse, tendo o Governo israelita confirmado a identidade de 97 pessoas.
Israel impôs um cerco total à Faixa de Gaza e cortou o abastecimento de água, combustível e eletricidade.
Todos os pontos de passagem de Gaza estão encerrados, o que impossibilita a entrada de combustível para a central elétrica do enclave palestiniano ou para os geradores de que os residentes e os hospitais dependem, segundo as agências internacionais.
A Faixa de Gaza tem cerca de 2,3 milhões de habitantes, sendo um dos territórios mais densamente povoados do mundo.
Lusa