Na sua primeira reação após a queda do jato privado que fazia a ligação entre Moscovo e São Petersburgo, Putin referiu-se a Prigozhin como um homem “talentoso” e “com um destino complicado, que cometeu erros graves na vida, mas que obteve os resultados que precisava".
O líder Wagner alcançou os resultados necessários "para si e, quando lhe pedi, para a causa comum, como nos últimos meses”, adiantou Putin em declarações proferidas no Kremlin e transmitidas por emissoras de televisão russas.
Prigozhin destacou-se ainda como “um empresário capaz e não só no nosso país, pois trabalhava com resultados em África, dedicava-se ao petróleo, ao gás, às pedras preciosas, ao metais”, disse Putin.
O mercenário de 62 anos, que Putin disse “conhecer desde o início da década de 1990”, foi chamado de “traidor” pelo Presidente russo após o seu motim fracassado em junho contra as chefias militares russas.
Segundo Putin, o líder do Grupo Wagner “regressou de África”, onde terá gravado as suas últimas declarações, afirmando que a sua empresa “torna a Rússia ainda maior em todos os continentes” no dia do desastre aéreo.
No acidente, morreram outras nove pessoas, entre as quais três tripulantes e Dmitry Utkin, um dos fundadores do grupo Wagner e ex-oficial das forças especiais russas.
A este e outros membros da cúpula da empresa militar, Putin dirigiu elogios pela sua "contribuição significativa" na guerra na Ucrânia.
Referindo-se à investigação sobre as causas do acidente lançada pelas autoridades russas, o Presidente russo prometeu “conduzi-la na íntegra e chegar a uma conclusão”.
"Veremos o que os investigadores dirão num futuro próximo. A perícia está em andamento, uma perícia técnica e genética. Levará algum tempo", disse Vladimir Putin.
As autoridades russas até agora não avançaram quaisquer causas que expliquem a queda na noite de quarta-feira do jato privado Embraer Legacy que, segundo as autoridades de aviação civil russas, transportava Prigozhin e os outros responsáveis do grupo Wagner.
O desastre alimentou especulações de que o homem que se tornou inimigo do Kremlin após a rebelião fracassada em junho teria sido assassinado e até promessas de vingança de membros da empresa militar fiéis ao seu líder nas redes sociais.
Avaliações preliminares do governo norte-americano, citadas hoje pelo Wall Street Journal, indicam que a queda do jato que transportava Prigozhin resultou de uma conspiração para assassinar o líder dos mercenários.
A mesma fonte adianta que até ao momento não existem indicações de que o jato tenha sido abatido por um míssil, como indicavam rumores em canais nas redes sociais próximos do grupo Wagner, e que as informações disponíveis sugerem que uma bomba explodiu a bordo ou outro uma sabotagem do aparelho.
A chefe da diplomacia alemã, Annalena Baerbock, juntou-se hoje às suspeitas de países europeus sobre responsabilidade do Kremlin na presumível morte de Prigozhin.
“Não é coincidência que o mundo inteiro esteja agora a olhar para o Kremlin quando um ex-assessor de Putin caiu literalmente em desgraça, repentinamente do céu, dois meses depois de tentar uma rebelião”, disse Baerbock.
Na quarta-feira, o Presidente dos EUA, Joe Biden, já tinha dito que “poucas coisas acontecem na Rússia sem que Putin tenha algo a ver com isso”.
Entre os países europeus domina a cautela nas reações à queda do avião, na quarta-feira, que terá provocado a morte de Prigozhin.
O porta-voz do Governo francês, Olivier Verán, admitiu que existem “dúvidas razoáveis” sobre o sucedido, dados os laços mantidos durante anos entre Prigozhin e o Presidente russo, Vladimir Putin.
O Grupo Wagner esteve muito ativo na guerra da Ucrânia, lançada pela Rússia em 24 de fevereiro de 2022.
No final de junho, depois de ter conquistado a cidade ucraniana de Bakhmut, na mais longa e sangrenta batalha da guerra, o grupo protagonizou uma rebelião contra o ministro da Defesa russo, Serguei Shoigu.
Prigozhin exigiu na altura a demissão de Shoigu e do chefe do Estado-maior, Valery Gerasimov, a quem acusou de mandar atacar os militares do Grupo Wagner e de incompetência na guerra contra a Ucrânia.
Durante a breve rebelião, o antigo aliado de Putin ocupou o comando militar russo na cidade de Rostov-on-Don, sudoeste da Rússia, e mandou avançar uma coluna de mercenários para Moscovo.
A coluna voltou para trás após um acordo alegadamente mediado pela Bielorrússia, para onde se terão transferido milhares de mercenários do Grupo Wagner.
Prigozhin esteve ausente das redes sociais durante algum tempo, mas surgiu esta semana num vídeo alegadamente gravado em África, antes do acidente do avião em que supostamente viajava.
Lusa