“O Grupo Wagner deu ordens para disparar contra todos os maiores de 15 anos. Entre 20 e 24 pessoas foram baleadas, incluindo dez adolescentes entre os 15 e os 17 anos”, disse Azamat Uldarov, recrutado pelo Grupo Wagner numa das campanhas de recrutamento nas prisões russas.
Uldarov, que teve a sua pena perdoada por decreto presidencial em setembro de 2022, confirmou que cumpriu este tipo de ordens e que “matou crianças” durante a campanha militar russa na qual participou.
“O que fizemos quando entramos em Bakhmut foi terrível. Eles deram-nos ordem para aniquilar todos”, disse Uldarov.
Yevgueni Prigojin, chefe do Grupo Wagner, deu ordens para “não deixar sair ninguém”, adiantou.
“Chegamos, eramos 150, e deram ordem para limpar a área com todos os meios e organizar a defesa. Nós matamos toda a gente. Mulheres, homens, idoso, crianças”, descreveu o entrevistado.
No seu canal na rede social Telegram, Prigojin rejeitou as afirmações de Uldarov.
"Ninguém dispara contra civis ou crianças. Ninguém precisa disso. Nós fomos lá para salvá-los do regime que os subjugava", retorquiu o chefe do grupo Wagner, referindo-se ao governo ucraniano.
"Infelizmente agora não tenho a possibilidade de ver o vídeo [de Uldarov] completo. Assim que tiver, sem dúvida, vamos estudá-lo detalhadamente e fazer uma avaliação final", adiantou.
O vídeo da conversa entre Uldarov e o fundador da organização Gulagu.net, Vladimir Osechkin, foi publicado no canal da organização na rede social Youtube.
Osechkin, que já partilhou entrevistas com outros ex-mercenários recrutados pelo Grupo, defendeu que os testemunhos recolhidos devem contribuir para a abertura de processos criminais contra Prigojin e outros altos membros do Grupo Wagner por “dezenas de assassinatos cruéis, uma série de crimes de guerra e crimes contra a humanidade”.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro de 2022 pela Rússia na Ucrânia causou até agora a fuga de mais de 14,6 milhões de pessoas – 6,5 milhões de deslocados internos e mais de 8,1 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A invasão russa – justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia – foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
Lusa